segunda-feira, 19 de maio de 2014

Lilita queria casar



Lilita é moça jovem, faceira e muito inquieta. Tinha sonhos como a maioria da moças de sua idade e grande parte deles se realizavam naturalmente, mas o mais desejado dos sonhos não se realizava, pois ela queria casar-se. 
O príncipe encantado não aparecia mais nem nos sonhos e ela frustrava-se. Quando via as amigas de mãos dadas com os namorados ficava com inveja, até que um certo dia resolveu ela mesma dar um jeitinho. Decidiu que atrairia um belo jovem muito especial para ser o seu futuro marido. Lilita faria qualquer coisa para ter êxito e em pouco tempo, as más ideias foram aparecendo na cachola.
Certo dia acordou bem cedo, tomou o café da manhã e saiu em desabalada carreira em direção ao centro comercial de sua cidade. Lá chegando foi direto para uma loja de produtos religiosos e comprou tudo o que queria! Voltou para casa satisfeita e foi logo colocando em execução o seu plano...
No fundo do quintal de casa, no final de um corredor úmido e cheio de cacarecos ela montou um pequenino “altar”, colocou uma imagem de gesso de uma mulher, acendeu velas coloridas, colocou numa taça de cristal, bebida alcoólica, no chão depositou cigarros acesos  e depois, com o sangue frio correndo nas próprias veias, fez promessas a uma entidade “imaginária” que acreditava ingenuamente, iria ajudar-lhe a conquistar o príncipe encantado!
A moça fazia promessas que no fundo de seu coração sabia que não poderia cumpri-las. Todas as noites ia até o fundo do longo corredor sujo e úmido para cumprir com o macabro ritual de pedidos, evocações, promessas, etc.
Algum tempo depois conheceu um rapaz que não largou mais, era exatamente como ela sonhava, nem mais nem menos.  E o namoro entre os dois ficou quente, a moça esqueceu-se das promessas feitas aos espíritos que julgava conhecer e dos rituais... sonhava acordada com os beijos e abraços, com as declarações de amor que o seu Romeu fazia... esqueceu-se então do tal corredor no quintal de casa, não ia mais acender os cigarros nem as velas para imagem de gesso nem colocava bebida alcoólica na taça, não saudava mais a “entidade mágica”, que por conta de sua ignorância acreditava ser uma pombagira, enfim, esqueceu-se das promessas que fizera...
O tempo passou, o moço avançou o sinal, seduziu-a e assim que conseguiu o que queria sumiu no mapa!
Lilita não casou-se como queria e ficou muito infeliz, sonhava quase todas as noites com algumas figuras femininas horrendas, que lhe perseguiam pedindo cigarros, bebidas...
Em seus pesadelos via mulheres e homens lhe pedindo que fosse ao fundo do corredor de sua casa para retomar com os rituais. A moça acordava suarenta, assustada e apavorada com as visões de seus pesadelos. Era só fechar os olhos e podia vê-los no mais puro deboche, foi então que ela encheu-se de coragem e gritou:
_Quem são vocês e o que querem de mim?
_Somos os seus “amigos” ora essa! Era para nós que pedia o tal “príncipe” encantado, não se lembra mais? Nos ofertava bebidas, cigarros e até sangue dos animais que saboreávamos... nos prometeu mundos e fundos e agora queremos mais!
Lilita teve muitos pesadelos como esse durante meses a fio. Mudou de humores do ruim para o péssimo, entrou em depressão e tentou o suicídio, sem êxito.
Foi levada a uma boa casa de umbanda para tratar-se espiritualmente, lá ficou sabendo que errou e que só conseguiu atrair com os atos impensados, espíritos zombeteiros de quinta classe! 

Axé!

Letícia Gonçalves

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