PERGUNTA: Quais os principais indícios que podem informar-nos da vivência de Jesus entre os Essênios?
RAMATÍS: Os estudiosos ocultistas sabem que algumas regras e alguns princípios adotados pelos cristãos em suas atividades doutrinárias já traíam algo as práticas e os votos essênicos da época. E' certo que Jesus, espírito sábio e admiravelmente prático, escoimou os ensinamentos essênicos de suas complexidades, votos fastidiosos, "mantrans" ou posturas iniciáticas que pudessem obscurecer a essência espiritual e dificultar as relações entre os discípulos e o Mestre, no mundo profano. Os princípios superiores que ele cultuou na intimidade dos santuários essênicos, depois os simplificou diante do público comum, na forma de aforismos e parábolas da mais elevada sabedoria espiritual. Ele ensinou os seus discípulos a viver à "luz do dia" os mesmos princípios e votos que muitos adeptos só o podiam fazer entre as colunas do templo iniciático.
Os Essênios eram contemplativos e oravam com a face voltada para o Oriente, quando o Sol nascia; eram frugais na alimentação, moderados no vestir e completamente despreocupados dos bens do mundo. Não se deixavam atrair pelas moedas e jóias, cuja indiferença o próprio Jesus revelou advertindo Judas de que "não lhe pesasse a bolsa de dinheiro", ou então quando de sua sentença clara e insofismável, em que destacou perfeitamente a "moeda que era do mundo de César, e os bens que eram do mundo de Deus"! Mesmo os discípulos, externos ou terapeutas sem iniciação esotérica evitavam as profissões desairosas, extorsivas ou somente especulativas; eram agricultores, artistas, cientistas, carpinteiros, oleiros ou pescadores. Jamais se metiam na
política, era negócios de agiotagem ou nas profissões de açougueiros, fiscais, esbirros, militares, negociantes de penhores,oficiais de justiça, criadores de aves ou animais para corte nos matadouros. Serviam a Deus pela santidade de espírito e pelo trabalho benfeitor ao próximo; aceitavam a reencarnação como um postulado fundamental de sua doutrina, coisa que nenhum judeu mosaísta admitia. A esse conceito essênico Jesus aludiu muitas vezes, quer advertindo da volta de Elias encarnado em João Batista (1), como respondendo a Nicodemus, que "ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo". No entanto, só os Essênios eram reencarnacionistas, assim como o era Jesus; eles não sacrificavam no Templo nem faziam quaisquer oferendas a Jeová no intuito de obterem boa colheita, êxito nos negócios e na saúde, coisa comuníssima entre os judeus de todas as classes sociais e condições de cultura. Evitavam as grandes cidades e nelas sentiam-se fatigados entre as multidões que se debatiam afogueadas pela cobiça, astúcia, ganância e pelo egoísmo humano. Jesus também demonstrou sua ojeriza pelas grandes metrópoles e preferia a margem dos
lagos tranqüilos da Galiléia; adorava Nazaré e suas colinas, de onde podia espraiar o seu olhar angélico até a fímbria do horizonte e revitalizar-se junto dos campos, das matas, dos lagos e dos rios.
Os Essênios também eram peculiarmente hospitaleiros, benevolentes, pacíficos e inimigos de quaisquer desforras ou testemunhos de superioridade; viviam silenciosos, falando o suficiente para servir e ensinar o próximo. Repeliam a ostensividade das preces, o pedantismo dos fariseus, o luxo das sinagogas e a dureza dos saduceus. Eram corajosos e leais nas suas relações com os demais homens e sacrificavam facilmente a vida para não quebrar seus votos iniciáticos. Diante da crueldade, da ironia ou de qualquer acusação alheia que trouxessem prejuízos à confraria essênica, eles preferiam silenciar e morrer, antes de delatar ou mesmo defender-se! Daí, o hábito
peculiar de Jesus como um admirador dos Essênios, era de poucas palavras, mas quando falava cunhava na face do orbe sentenças e conceitos imorredou-ros! Isto ele o provou pelo seu majestoso silêncio diante dos seus juizes no Sinédrio, que o acusaram cruelmente, e mesmo diante de Pôncio Pilatos, que tentou suavizar-lhe a pena somente para desforrar-se de Caifás.
(1) Mateus, XVII — 11 a 13; João, III — 1 a 12.
Certas máximas evangélicas de Jesus eram verdadeiras paráfrases ou preceitos do mais puro essenismo, tal como os ensinamentos da "porta estreita", "não ponhais a candeia debaixo do alqueire" ou o conceito de "não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita", ainda hoje sublimado no tronco das oferendas usado no seio da maçonaria. Aliás, o capítulo VII de Mateus, em seus vinte e nove versículos, é quase um resumo dos estatutos dos Essênios, elaborado para graduar as diversas fases da iniciação dos neófitos nos santuários maiores. Outra narrativa de Jesus de grande relevo espiritual iniciático é a parábola do "Festim de Bodas", quando ele compara o céu a um homem rei, o qual manda lançar nas trevas exteriores o convidado que se achava à mesa do banquete sem a veste nupcial! (2) No entanto, apesar de certa obscuridade no relato ou dificuldade no entendimento da essência velada pelo simbolismo, os Essênios já conheciam a existência do perispírito, como atualmente acontece aos espíritas.
Os neófites aprendiam em sua iniciação, que só depois de o espírito vestir a "túnica nupcial", ou purificar o seu perispírito, é que ele poderia participar do "banquete divino" da vida celestial, pois, em caso contrário, assim como aconteceu na narrativa do "Festim de Bodas", os que não vestirem tal túnica serão lançados naturalmente nas regiões do astral inferior para se purificarem de suas paixões animais. Onde Jesus teria buscado tantas historietas e conceitos da mais pura simbologia espiritual, caso não tivesse tido contato com os Essênios, quando entre os judeus devotos de Moisés só se transmitiam ensinamentos áridos, complexos e violentos, como a "lei do olho por olho e dente por dente"? Muitas das respostas do Mestre Galileu aos seus inquiridores capciosos, que procuravam confundi-lo ou ironizá-lo, ele as firmara na tradição de certos preceitos essênicos, embora os tivesse simplificado em sua forma e vivificado no seu sentido de mensagem espiritual.
LIVRO: "O SUBLIME PEREGRINO" RAMATÍS/HERCÍLIO MAES - EDITORA DO CONHECIMENTO.
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