sábado, 3 de janeiro de 2015

QUAL É O VERDADEIRO PASSAPORTE PARA O CEU?


Quantos espíritas, católicos, umbandistas, protestantes, teosofistas, budistas, hinduístas etc, aportam diariamente na  alfândega do Além .... para a enorme decepção de descobrir  que sua carteirinha de devoto daquela doutrina não equivale  a um passaporte para o Céu, o Astral superior ou o devachan.... (Dez em dez leitores destas linhas estarão pensando:

“Eu não penso isso, claro...”). É certo que os reencarnacionistas, em teoria, não acreditam nisso.... Mas no fundo, lá no fundo, nos nichos secretos da mente, nos recônditos do coração,  qual de nós não tem uma oculta convicçãozinha de que, afinal de contas, tantos anos de doutrina, de trabalho no centro, na  mediunidade, no auxílio ao próximo, estudos etc, não podem  nos garantir uma colocaçãozinha jeitosa lá no Outro Lado?

“Bom, pelo menos para o Umbral eu não devo ir”, diz em última instância o espírita esperançoso. E não há religioso devoto que não o copie, trocando só os termos da geografia do Além...
O fato de que todos os religiosos (Oriente e Ocidente)  guardam essa esperançosa convicção leva a concluir que, digam o que disserem, praticamente todos tem a mesma inconfessável certeza de que, puxa vida, afinal de contas, todo esse tempo de serviço na doutrina x ou y deve garantir alguma  média Lá em Cima....

É muito difícil para nós assimilar radicalmente essa idéia simples, mas subversiva de hábitos milenares, de que as religiões – quaisquer delas! – não valem como fins em si mesmas... só na medida em que apontam caminhos e dão mapas para o trajeto na Senda Evolutiva, no rumo da consciência cósmica.
Estamos milenarmente acostumados a nos abrigar sob as asas protetoras das crenças que, oferecendo instituições maternais, figuras paternas de líderes e conjuntos de crenças, preceitos e normas que funcionam como ninhos protetores, nos oferecem não apenas a sensação de segurança e pertencimento a um grupo – uma necessidade muito humana – mas passam, explicita ou subliminarmente, a seus adeptos a confortadora certeza de que do seu manto doutrinário se tecerá automaticamente, no dia da grande viagem, o par de asas necessário à migração para um alojamento de, no mínimo, quatro estrelas nesse país aonde ninguém escapará um dia de aportar, tenha ou não reservado albergue, hotel ou pensão.

Ramatís não desejava, com essa afirmação, desencantar-nos ou desesperançar-nos. O objetivo final dessa desilusão –esse dissolver da ilusão milenar que em última análise nos entrava a caminhada – reside mais além. Implica em concluir que, se toda e qualquer religião NÃO é, como uma repartição autorizada da polícia federal do Céu, capaz de nos garantir um passaporte privilegiado para o Além, então... então... todas elas resultam equivalentes! Não é a conclusão inevitável?
Pouco importa se eu for confucionista ou ba’-hai, messiânico ou do Exército da Salvação, seguidor da Vedanta ou do Evangelho Poligonal, de Krishna ou de Moisés.... Se o peso  específico do meu perispírito é a única (ai de nós!) medida  que determinará automaticamente o plano para onde minha  consciência vai ser despachada, ao chegar na fronteira do  pós-túmulo... que diferença faz eu acreditar neste ou naquele dogma, nesta ou naquela fórmula de culto, nesta ou naquela revelação? Importa é o que eu fiz com aquilo em que acreditei, e onde as informações que recebi me auxiliaram a sintonizar a minha mente e o meu coração.
Essa crença me fez misericordioso, solidário, fraterno e tolerante, compassivo e generoso, altruísta e desprendido? Silenciou meus lábios para a crítica e a maledicência, a reclamação e a injúria, a ofensa e a condenação? Fez de mim uma pessoa melhor no decurso do ano letivo desta encarnação? Beleza: então foi uma escola proveitosa! Mas o que vai conosco não é o uniforme da escola, é o boletim escolar, impresso de forma indelével na profundeza de nossos corpos internos, em forma de cores específicas, energias de frequências maiores ou menores... um corpo mental brilhante ou opaco, um corpo astral obscurecido por zonas energéticas pesadas ou leve, colorido, diáfano (a gente mal ousa imaginar como andará o nosso, a esta altura do ano escolar...)
Essa afirmação lapidar de Ramatís leva-nos a uma conclusão matemática como o resultado inevitável de uma equação: as religiões, enquanto caminhos, se equivalem todas, desde que o seu fundamento e prática seja o amor ao próximo como caminho para Deus (não olvidando o corolário de Gandhi: “Ama a teu próximo como a ti mesmo - e tudo que vive é o meu próximo”. Ou seja, não adianta escamotear os irmãos menores de outros reinos da natureza).

Portanto, e como queríamos demonstrar, o sentimento universalista é a resultante dessa equação.
No dia em que realmente, no fundo de nossa alma, com todo o coração, e não só na teoria, sentirmos toda a extensão da verdade implícita nessa sentença de Ramatís, então, e só então, o verdadeiro sentimento universalista estará enraizado em nossa consciência. Não precisaremos mais exercitar a tolerância para com as outras crenças. Veremos a todas como as apostilas escolares que servem aos alunos de todos os graus (é claro que algumas trazem maior quota de informações sobre as rotas a percorrer, facilitando nosso trajeto, apenas isso), e em nosso sentimento, todas serão iguais em utilidade e proveito, cada qual na adequação a um tipo psicológico e mental humano. E em cada criatura buscaremos apenas o brilho do olhar, que nos dirá não a que seita pertence, mas em que grau a Luz Interna já se irradia do centro de seu ser – tudo o que realmente importa nesse transitar pela Senda do infinito.



FONTE: “INFORMATIVO RAMATÍS” - Órgão de divulgação da AFRAM - Associação das Fraternidades Ramatís Ano I - Número 1 — Jan/Fev/Março 2011

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