sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

PARA NÃO DIZER QUE NUNCA TE FALEI SOBRE ISSO.


Despachos em encruzilhadas urbanas, nas praças, nas esquinas dos bairros, sempre foram motivo de polêmica. Uns se assustam e desviam, outros criticam, julgam e condenam e tantos outros curiosos desrespeitam, abusando da própria sorte, em nome da “santa” mãe ignorância!
A história que vamos contar relata exatamente o que acontece a muitos incautos, que por imprudência caem em suas próprias armadilhas, vítimas da intolerância e do desrespeito que eles próprios cultivam em si.
Quem nunca ouviu uma história assim que atire a primeira pedra! 
Cássio, voltando da balada com a turma de amigos, de madrugada resolveu encurtar caminho passando por uma rua deserta, tarde da noite e ainda por cima pouco iluminada...
Estavam todos bêbados, alegres e já desgastados pelos comes e bebes da festa em que estavam. Cansados e precisando do sono reparador, retornavam para seus lares numa conversação animada, porém desnecessária. Falavam alto, gesticulavam muito e faziam as brincadeiras e as piadas próprias daqueles que não têm respeito pelos outros...
Em dado momento, avistaram duas pessoas numa esquina, iluminadas por velas que estavam no chão. Em silêncio comentaram aos risos que se tratava de um despacho, que no vocabulário deles trataram por “macumba”. Reduziram os passos, discretos e ladinos, esconderam-se atrás de um poste, observando atentamente até que aquelas pessoas fossem embora.
Sem perder tempo e, para não deixar de ser o menino “bobo da corte”,  Cássio avançou ansioso para o despacho e lá chegando, deu mais uma olhadela para assegurar-se de que ninguém mais o veria. Olhou para os amigos que amedrontados lhe pediam constantemente para recuar, fez uns gracejos, dançou e se balançou debochadamente, dando gargalhadas diante do ebó...
Os amigos desconfiados mantiveram distância, mesmo aos risos, mas Cássio queria mais... e infelizmente cometeu um dos maiores erros de sua vida. Pegou uma garrafa de uma bebiba alcóolica junto ao despacho e a bebeu, depois riu e chutou os objetos depositados ali! Chutava e destruía o que podia e correu atrás dos amigos que por medo e de certa forma, respeito, evadiram-se do local.
Ele até que insistiu para que os amigos tomassem um gole da bebida,  mas ninguém se candidatou, embora todos comentavam freneticamente sua coragem de mexer “naquelas coisas”! Riram, debocharam e enfim, chegaram em seus lares.
Algumas horas depois Cássio despertou cansado, com ressaca e confuso, não se lembrava do ocorrido. Ainda estava com as roupas que chegara da rua. A cabeça doía e os músculos pareciam atrofiados, nada que um bom chá da mamãe não resolvesse.
Algum tempo depois...
O rapaz estava doente, seus pulmões encheram-se de água! Diante da gravidade inesperada de sua doença, fora internado. Nenhum medicamento lhe colocava novo em folha! Os antibióticos pareciam não surtir efeito em seu organismo debilitado. Vivia internado e já havia perdido mais de seis quilos!
Os amigos iam lhe visitar no hospital e um deles assustadíssimo com a magreza do jovem, lhe fez lembrar que tudo aconteceu depois que destruiu o tal despacho! Cássio sentiu um frio enorme correr-lhe pela espinha, lembrando-se da cena que lhe passava pela tela mental com uma nitidez assustadora. Sentiu medo pela primeira vez, mas soube disfarçar para os amigos, afirmando que não fora por isso, dando-lhes um sorriso amarelo.
Ao ganhar alta médica depois de ficar de molho mais de uma semana no hospital, ainda enfraquecido e proibido  terminantemente de expor-se ao frio, a chuva, entre outras recomendações médicas, o rapaz sentia-se deslocado e infeliz. Uma tristeza enorme lhe preencheu o peito e um frio mórbido percorria-lhe a espinha, seguidos de calafrios.
Recuperando-se em casa e já esperançoso de fortalecer-se, desejou dormir um sono tranquilo. Mas os pesadelos de sempre lhe retornavam a mente e Cássio despertava suarento e assustadiço.
Entrou em depressão, parou de comer, não saia mais de casa nem para falar com os amigos, não conseguiu reabilitar-se fisicamente e ainda por cima, pouco a pouco desestabilizava-se psiquicamente.
Passou a andar pela casa de madrugada com insônia, estava cada vez mais magro e perturbado. A fraqueza física era tanta, que o rapaz já não se movia sozinho,  precisa que algum familiar lhe auxiliasse nesta tarefa que antes, bem antes de tudo isso acontecer, lhe parecia fácil.
Sentindo-se como um idoso, em profunda depressão e a beira de um colapso mental, caiu em prantos desesperadamente, no colo da avó, pedindo-lhe socorro!
Aquela senhora lhe ouvia comovida os apelos dolorosos, enquanto tentava concatenar as ideias. E por fim, depois de lhe ver em profundo desespero e as raias da loucura, tomou a decisão de leva-lo a um centro espírita, o qual frequentou algumas vezes.
Mesmo a família sendo católica, resolveu concordar, pois diante de tal fato sentiam-se impotentes e de mais a mais, já sabiam que Cássio havia desrespeitado o culto alheio, numa madrugada dessas...

Souberam, mas  calaram-se na época, mas agora diante de toda esta situação aceitaram os argumentos da matriarca, esperançosos de que tudo pudesse ficar bem para o rapaz.
Enfim, chegou na casa de caridade enfraquecido, osso e pele! Era o centro das atenções dos consulentes já acostumados a estarem ali. Pelo estado lastimável em que se encontrava aquele jovem de vinte e um anos de idade, foi atendido com certa urgência. Já diante da entidade ligada ao médium, foi ouvido e precisou ouvir. Um tratamento inicial lhe seria oferecido, mas precisaria ter fé e ser disciplinado, aceitando as regras da casa  para que pudesse ser ajudado. 
Vejam só, se tocar nestes objetos que estão inundados com uma carga vibratória, que tem endereço certo já é arriscado, imaginem só destruir algo que não nos pertence por pura leviandade! Se o que foi arriado numa encruzilhada mesmo sendo urbana, tiver uma carga vibratória pesada, onde os pensamentos foram destinados à magia negra, numa barganha com o Astral inferior, mesmo que quem passe por esse despachos seja leigo, é melhor não mexer.
Enquanto isso, nosso personagem  que vivia um misto de  susto e curiosidade, envolvido pelo sentimento de vergonha e perplexidade, confuso e amedrontado, aceitou o tratamento espiritual.
Depois de um longo tempo o jovem Cássio  já podia caminhar sozinho para o centro espírita no qual ainda fazia tratamento espiritual. Ainda confuso e sentindo-se obrigado a acreditar em algo para ele desconhecido, onde seus pensamentos lhe cercavam de questionamentos impossíveis naquele momento de serem compreendidos. E numa dessas visitas ao templo espírita de amor e caridade, no meio do caminho que levava para  o mesmo, a cerca de seiscentos metros do local, numa encruzilhada “qualquer”, Cássio deparou-se novamente com o que chamava para si de “macumba”. Desta vez ele engoliu seco ao observar que existiam animais mortos e outros objetos estranhos, que só de ver lhe causavam mal estar. Aliás, causaria  a qualquer um de nós, cujo o bom senso, o amor e a caridade já existem bem desenvolvidos para com os nossos irmãos pequenos (os animais).
O rapaz parou, respirou fundo, sentiu um frio lhe percorrer novamente a espinha, suou frio, tremeu as mãos e as mesmas ficaram imediatamente molhadas de suor. Fechou os olhos e buscou coragem para caminhar e, respeitosamente, passou do outro lado da rua em meio a passos vacilantes e se foi sem olhar para trás, balbuciando um “Pai Nosso” ininteligível!
Chegou à casa de umbanda pálido, coitado! Ao avistar o dirigente da casa relatou o acontecido e o mesmo lhe perguntou:
_Meu filho, você desta vez chutou, tocou em algo ou destruiu o que viu nesta encruzilhada? O jovem rapaz olhando para o chão, meio sem graça, disse ao seu benfeitor encarnado em tom humilde:
_Desta vez não, senhor. Aprendi a lição!

Costuma-se dizer que os “despachos de encruzilhada” depositados nas esquinas urbanas "não surtem efeito".   
Existe "alguém" (espíritos) do outro lado que os “recolhe” ou recebe no plano espiritual (a energia) sendo sua finalidade para o bem ou para o mal. Em tudo existe energia e a força do pensamento é magia!
Respeito ao que não conhecemos ou cultuamos e mesmo ao que não nos agrada aos olhos é fundamental, mesmo porque não somos os donos da verdade.
O que aconteceu com o nosso personagem é o que de diferentes formas e circunstâncias, ocorre àqueles que munidos de ignorância e arrogância se submetem voluntariamente a situações arriscadas. 
O melhor ainda é ficar de longe, passar do outro lado e seguir cada um com sua vida, deixando que os outros sigam com as suas. Isso, dentro e fora de qualquer religião! Sei bem que estes ebós agridem aos nossos olhos e em muitos casos chegam a causar repugnância e profundo preconceito! Os leigos acabam por generalizar e acusam e responsabilizam sem medir palavras os umbandistas. 
Umbandista não faz isso! Umbanda é amor e respeito incondicional pela natureza e por tudo o que faz parte dela! A umbanda é um movimento harmônico de energias poderosas e salutares, que tem sua representação vibratória em cada ponto específico da Terra, junto a Mãe natureza... 
Não se deve chutar, destruir ou tocar nos objetos que encontramos nas esquinas urbanas conhecidos como despachos, sejam flores, rosas, fitas, bebidas, etc! Não se deve mexer com o desconhecido.  Não devemos nos meter com o que não é da nossa conta!


Axé!

Letícia Gonçalves.


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