sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Doces encontros



 
 
Sofia está muito feliz depois que conseguiu resolver de vez seus “problemas” de ordem psíquica. Desde criança ouvia e via pessoas que estavam “mortas”. Para seus familiares era uma “menina problema” e quando completou quinze anos de idade, chegou a ser internada numa clínica psiquiátrica por uma semana.
Os pais terrenos de Sofia, embora simpáticos ao espiritismo, não compreendiam a mediunidade da moça com todas as suas “esquisitices” e como ela não se interessava em seguir a doutrina “deles”, ficava quase sempre falando sozinha, pois seus pais por ignorarem que se tratava apenas da necessidade da médium desenvolver-se, abandonavam-na a própria sorte, temendo ser ela a porta voz de espíritos zombeteiros. Ela afirmava que via homens negros, envelhecidos em sua contextura “física”, que usavam roupas brancas e fumavam cachimbo, dizia ver índios belíssimos, altos, fortes, altivos e livres, também contava sobre as mulheres genuinamente femininas, mas com uma força fantástica para ela ainda desconhecida. Convidavam-na para fazer parte do grupo... Tentavaem vão explicar aos pais biológicos as visões que tinha e o que ouvia das tais pessoas e ainda era interpretada de forma equivocada pelos genitores. Um dia, já cansada de tomar medicamentos antidepressivos e de ser vista por todos como a “louca”, decidiu que ninguém mais iria tomar decisões por ela. Foi em busca de respostas e através de alguns livros que adquiriu numa livraria espiritualista, passou a conhecer mais sobre os personagens que via e ouvia através de sua sensibilidade mediúnica, desde sua infância. Foi aí que caminhou com suas próprias pernas e encontrou um ambiente totalmente diferente dos que costumava frequentar esporadicamente com seus pais, foi parar num templo umbandista!
Foi amor à primeira vista! Nunca mais deixou o lugar no qual encontrou amparo e orientação. Estudou, disciplinou-se e descobriu que tinha uma missão e que seus dons mediúnicos não lhe foram dados por acaso. Havia chegado a hora da menina Sofia, já com seus dezenove anos de idade, labutar como todo trabalhador de Jesus (médiuns) e com isso, crescer mais, compreendendo a vida em suas nuances.
Contrariou os pais, mas seguiu em frente sem medo. Mais esperançosa e fortalecida, a menina Sofia já não era mais vista como “louca” e até podia conviver com pessoa iguais a ela e até trocar experiências positivas no campo da mediunidade. 
Dois anos se passaram e Sofia já estava mais preparada para dar os primeiros passos, os tímidos, mas respeitosos passos naquele templo abençoado. Servia como podia e muito aprendia. Sem contar que era todo o tempo observada, orientada e cobrada por seus superiores encarnados, dentro daquela egrégora. Uma noite ao deitar-se para dormir, lembrou-se de quando “sonhava” com os indígenas que avistava ao longe, dificilmente podendo aproximar-se. Pensou consigo “um deles olhava muito pra mim, o fazia como se estivesse me “escaneando”. Havia uma força que vinha dele... Eu tremia, mas gostava! Onde estarão os meus amigos enfeitados com penachos coloridos e com seus arcos e flechas imponentes? Por que não “sonho” mais com eles? Queria poder vê-los novamente, pois sinto saudades daquele olhar penetrante que me fazia tremer todo o corpo e ficar tímida.”
E já adormecendo esboçou um sorriso feliz. Naquela noite a médium abandonou momentaneamente o equipo físico e foi levada por um magnetismo do qual não conseguia livrar-se. Deixou conduzir-se mansamente, sentindo dois corações baterem em seu peito ao mesmo tempo. O chacra cardíaco agora vibrava, era como se todo o seu corpo estivesse envolto numa corrente elétrica, contínua e suave. Visualizou um lugar ao ar livre com uma floresta vicejante. Do outro lado um campo vasto e ao longe as montanhas, localizou as cachoeiras iluminadas pelo sol esplêndido e a as aves de rara beleza e de um colorido magnífico, que voavam livres. Cavalos selvagens galopavam pelos campos num “balé”, cuja sincronia e beleza falavam por si. Avistou ao longe um grupo de pessoas, pareciam observa-la atenciosamente, Sofia os reconheceu de imediato e sentiu mais forte as batidas daquele coração “intruso” em seu peito, que mais parecia querer competir com o seu, ela sorriu e correu para eles. Todas aquelas pessoas em trajes tão coloridos e tão belos, montados em seus alazões. Eram altivos, bons e passavam-lhe a forte impressão de que estava mais próxima dos seus familiares do que nunca! Nesse momento um silvícola destacou-se dos demais que afastaram-se propositadamente, deixando-os a sós. Sofia esforçava-se para manter-se calma, enquanto aquele belo jovem a acariciava, ela mal podia acreditar no que sentia, eram um só naquele momento, parecia que seu coração batia agora, no peito dele! Nunca havia pensado que seu verdadeiro amor estivesse do “outro lado” e que um corpo de carne pudesse “separá-los”. Agora tudo fazia enorme sentido para ela, os sonhos que tivera na infância com aquele povo tão exótico, cuja vibração a fazia suspirar de saudades, o olhar dele que a tudo via e que de tudo sabia a seu respeito... Nossa!
Livres estavam os dois amando-se naquele lugar paradisíaco, como se o tempo jamais existisse para a jovem Sofia, que agora entendia quem era o belo que a observava sempre deixando-a desconcertada, mas feliz.
Caminharam de mãos dadas, cavalgaram juntos, e no fim, tudo o que ela pode levar consigo naquele último momento foi: “Estaremos sempre juntos”. 
Despertou em seu quarto e imediatamente a realidade terrena lhe cravou o punhal da saudade, da “distância” e do “esquecimento”! Ouvia-se ao longe os choros e soluços da menina que havia descoberto “sua origem”, seu povo e seu amor verdadeiro. Lágrimas molhavam sua face e no peito já não mais tinham dois corações a bater, que pena!
Na casa umbandista a qual servia, conversou com entidade espiritual, desabafando entre lágrimas, sobre a última experiência extracorpórea que tivera. A delicada Sofia, agora chorava sob o amparo da entidade que vibrava para seu médium palavras de orientação. Ofertava conselhos e explicações para a doce menina que desfazia-se em lágrimas toda saudosa.



ENTIDADE: _Menina Sofia, tenha calma e procure entender, não há separação definitiva para nada neste mundo. São as dimensões em que atuamos que momentaneamente nos “separam” das outras, mas esta “separação” só se dá por causa do invólucro carnal que os encarnados envergam e pela diferença vibratória...

SOFIA: _Mas sinto a falta dele, quero estar em sua presença todo o tempo. Sei que não posso, compreendo isto, mas e agora? Descobri que sou esposa de alguém que está em outra dimensão! Encarnei para cumprir a minha missão, enquanto ele permanece noutro plano, servindo e trabalhando na Seara de Jesus, assim como tantos outros... Tenho minha família e estão lá... Eu os quero! E continuou a choramingar.

ENTIDADE: _Menina, as revelações que te foram feitas, sucederam-se por algum motivo especial, então não perca esta oportunidade abençoada e aprenda a controlar seus anseios e ímpetos. No mais nossa família está aqui, lá, acolá... Como pode afirmar que somente eles são sua família? As formas só existem para que vocês aí, melhor compreendam e assimilem, mas elas são transitórias. Se continuar assim, perderá grandes oportunidades de crescer ainda mais.

SOFIA: _O que devo fazer? Estou feliz e ao mesmo tempo sinto-me ferida ao despertar sabendo de tudo. Sinto-me só, aqui no físico, o senhor me entende? Não quero casar-me com ninguém, quero só ele! 
Percebendo as enormes confusões que Sofia fazia e como ainda estava fragilizada, a entidade aconselhou a a esperar a “poeira abaixar” e disse-lhe que compreenderia melhor tudo, assim que se permitisse e que se desprendesse das falsas ideias de posse.
O tempo passou e realmente Sofia conseguiu entender o porquê de tais revelações, equilibrou-se com as boas orientações e conselhos, estudou muito e não ficou a esperar pelos contatos especiais como antes. Entendeu então que a vida corpórea era curta

diante da eternidade do espírito, acalmou a alma e serenou-se tornando-se uma mulher madura.
Até que um dia, trabalhando na mesma casa umbandista que de costume, na sessão dos caboclos, viu em clarividência um caboclo alto e belo aproximar-se dela. Era ele, o seu amado! Trazia os cabelos lisos e longos adornados por penachos de um colorido vibrante, segurava seu arco e suas flechas que impunham respeito e trazia no olhar o mesmo “tom” expressivo transmitindo-lhe força e paz. Estava sério, porém o olhar penetrante que lhe desconcertava era o mesmo! Reconheceu aquele espírito de imediato e de repente, outro coração passou a bater em seu peito, era o dele!
Ela olhou para baixo em sinal de respeito, sorriu-lhe discretamente e encheu-se da mais pura emoção, vibrando em alto diapasão e irradiando cores multicoloridas em seu campo magnético. A aura envolta por tons suaves e brilhantes cintilava oscilando de um polo a outro.

A entidade aproximou-se tomando o controle da mente da médium e de seus centros motores e em pouco tempo, Sofia vibrava para ele e ele para ela, como numa simbiose divina.
Os médiuns olhavam-na agora com alegria sem sequer imaginar o que acontecia. Mal podiam identificar aquela vibração agradável que repercutia por todo o ambiente astral da casa, na mais perfeita sintonia com as outras.
Uma elegante figura de rara beleza havia tomado conta daquela médium, que pela primeira vez naquela encarnação, vibrava sob o comando de um Caboclo que para ela era muito especial. Sofia agora servia de ponte para aquela entidade, que prestaria o devido auxílio aos consulentes naquele templo religioso.



Autoria: Marcos Marchiori/Letícia Gonçalves

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