A alma virtuosa, depois de haver vencido suas paixões,
depois de abandonar o corpo, miserável instrumento de dor e de glória, vai,
através da imensidade, juntar-se às suas irmãs do espaço. Atraída por uma força
irresistível, ela percorre regiões onde tudo é harmonia e esplendor; mas a
linguagem humana é muito pobre para descrever o que aí se passa.
Entretanto, que alívio, que deliciosa alegria então
experimenta, sentindo quebrada a pesada cadeia que a retinha à Terra, podendo
abraçar a imensidão, mergulhar no espaço sem limites, librar-se além dos
mundos. Não mais tem um corpo enfermo, sofredor e pesado como uma barra de
chumbo; não mais terá fardo material para arrastar penosamente... (continua)
Desembaraçada de suas cadeias, entra a irradiar e embriaga-se de espaço e de liberdade. A fealdade terrena e a decrepitude deram lugar a um corpo fluídico de aparência graciosa e de formas ideais, diáfano e brilhante. Aí encontra aqueles a quem amou na Terra, que a precederam na nova vida e agora parecem esperá-la. Então, comunica-se livremente com todos, suas expansões são repletas de felicidade, embora ainda um pouco anuviadas por tristes reminiscências da Terra e pela comparação da hora presente com um passado cheio de lágrimas. Outros Espíritos que perdera de vista em sua última encarnação, mas que se tinham tornado seus afeiçoados por provas suportadas em comum no decurso das idades, vêm também juntar-se aos primeiros. Todos os que compartilharam seus bons ou maus dias, todos os que com ela se engrandeceram, lutaram, choraram e sofreram correrão ao seu encontro, e sua memória, despertando-se desde então, ocasionará explosões de felicidade e venturas que a pena não sabe descrever.
Desembaraçada de suas cadeias, entra a irradiar e embriaga-se de espaço e de liberdade. A fealdade terrena e a decrepitude deram lugar a um corpo fluídico de aparência graciosa e de formas ideais, diáfano e brilhante. Aí encontra aqueles a quem amou na Terra, que a precederam na nova vida e agora parecem esperá-la. Então, comunica-se livremente com todos, suas expansões são repletas de felicidade, embora ainda um pouco anuviadas por tristes reminiscências da Terra e pela comparação da hora presente com um passado cheio de lágrimas. Outros Espíritos que perdera de vista em sua última encarnação, mas que se tinham tornado seus afeiçoados por provas suportadas em comum no decurso das idades, vêm também juntar-se aos primeiros. Todos os que compartilharam seus bons ou maus dias, todos os que com ela se engrandeceram, lutaram, choraram e sofreram correrão ao seu encontro, e sua memória, despertando-se desde então, ocasionará explosões de felicidade e venturas que a pena não sabe descrever.
Como resumir as impressões da vida radiante que se
abre ao Espírito? A veste grosseira, o manto pesado que lhe constrangia os sentidos
íntimos, despedaçando-se subitamente, tornam centuplicadas as suas percepções.
O horizonte se lhe alarga e não tem mais limites. O infinito incomensurável,
luminoso, desdobra-se às suas vistas com suas ofuscantes maravilhas, com seus
milhões de sóis, focos multicores, safiras e esmeraldas, jóias enormes, derramadas
no azul e seguidas de seus suntuosos cortejos de esferas. Esses sóis, que
aparecem aos homens como simples lampadários, o Espírito contempla em sua real
e colossal grandeza; vê-os mais poderosos que o luminar do nosso planeta; reconhece
a força de atração que os prende e distingue ainda, em longínquas profundezas,
os astros maravilhosos que presidem às evoluções. Todos esses fachos
gigantescos ele vê em movimento, gravitando, prosseguindo seu curso vagabundo,
entrecruzando-se, como globos de fogo lançados no vácuo pela mão de um
invisível jogador. Nós, perturbados sem cessar por vãos rumores, pelo confuso
sussurro da colmeia humana, não podemos conceber a calma solene, o majestoso
silêncio dos espaços, que enche a alma de um sentimento augusto, de um assombro
que toca as raias do pavor.
Mas o Espírito puro e bom é inacessível ao temor. Esse
infinito, frio e silencioso para os Espíritos inferiores, anima-se logo para
ele e o faz ouvir sua voz poderosa. Livre da matéria, a alma percebe, aos
poucos, as vibrações melodiosas do éter, as delicadas harmonias que descem das
regiões celestes e compreende o ritmo imponente das esferas.
Esse cântico dos mundos, essas vozes do infinito que
soam no silêncio ela saboreia até se sentir arrebatar. Recolhida, inebriada,
cheia de um sentimento grave e religioso, banha-se nas ondas do éter, contempla
as profundezas siderais, as legiões de Espíritos, sombras ligeiras que flutuam
e se agitam em esteiras de luz. Assiste à gênese dos mundos, vê a vida
despertar-se e crescer na sua superfície, segue o desenvolvimento das humanidades
que os povoam e, nesse grande espetáculo, verifica que em toda parte do
Universo a atividade, o movimento e a vida ligam-se à ordem.
Qualquer que seja seu adiantamento, o Espírito que
acaba de deixar a Terra não pode aspirar a viver indefinidamente dessa vida
superior. Adstrito à reencarnação, essa vida não lhe é senão um tempo de
repouso: uma compensação aos seus males, uma recompensa aos seus méritos.
Apenas aí vai retemperar-se e fortificar-se para as lutas futuras. Porém, nas
vidas que o esperam não terá mais as angústias e os cuidados da existência
terrestre.
O Espírito elevado é destinado a renascer em planetas
mais bem dotados que o nosso. A escala grandiosa dos mundos tem inúmeros graus,
dispostos para a ascensão progressiva das almas, que os devem transpor cada um
por sua vez.
Nas esferas superiores à Terra o império da matéria é
menor. Os males por esta originados atenuam-se, à medida que o ser se eleva e
acabam por desaparecer. Lá, o ser humano não mais se arrasta penosamente sob a
ação de pesada atmosfera; desloca-se de um lugar para outro com muita facilidade.
As necessidades corpóreas são quase nulas e os trabalhos rudes são
desconhecidos. Mais longa que a nossa, a existência aí se passa no estudo, na
participação das obras de uma civilização aperfeiçoada, tendo por base a mais
pura moral, o respeito aos direitos de todos, a amizade e a fraternidade. As
guerras, as epidemias e os flagelos não têm acesso e os grosseiros interesses,
causa das nossas ambições, não mais dividem os povos.
Esses dados sobre as condições de habitabilidade dos
mundos são confirmados pela Ciência. Pela espectroscopia já se conseguiu
analisar os seus elementos constitutivos; já se pesou a sua massa, calculando
seu poder de atração.
A Astronomia nos mostra as estações do ano, variando
de duração e intensidade, segundo a inclinação dos globos sobre sua órbita, e
ensina-nos que Saturno tem a densidade do pau “bordo”, Júpiter quase a da água,
e que sobre Marte o peso dos corpos é menos de metade que na Terra. Ora, sendo
a organização dos seres vivos a resultante das forças em ação sobre cada mundo,
vemos que variedades de formas se originam desses fatos, que diferenças devem
produzir-se nas manifestações da vida sobre os campos inumeráveis do espaço. Chegará
afinal um dia em que o Espírito, depois de haver percorrido o ciclo de suas
existências terrestres, depois de se haver purificado através dos mundos, por
seus renascimentos e migrações, vê terminar a série de suas encarnações e abrir-se
a vida espiritual, definitivamente, a verdadeira vida da alma, donde o mal, as
trevas e o erro estão banidos para sempre. A calma, a serenidade e a segurança
profunda substituem os desgostos e as inquietações de outrora. A alma chegou ao
término de suas provações, não mais terá sofrimento. Com que emoção rememora os
fatos de sua vida, esparsos na sucessão dos tempos, sua longa ascensão, a
conquista de seus méritos e de sua elevação! Que ensinamento nessa marcha
grandiosa, no percurso da qual se constitui e se afirma a unidade de sua natureza,
de sua personalidade imortal!
DO LIVRO: “DEPOIS DA MORTE” LÉON DENIS
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