Alberto, nosso personagem principal, fazia parte do grupo de
médiuns de uma frequentada casa espírita. Era um dos mais requisitados, pois
trabalhava com entidades que aos olhos dos mais ingênuos ou se preferirem, dos consulentes,
eram ais mais fortes...
Isso tudo é uma grande ilusão, pois todos os trabalhadores do lado
de lá (guias) estão capacitados a auxiliar os encarnados, desde que estejam
atuando na caridade com Jesus!
Alberto não parava um minuto desde o momento que adentrava seu
local de trabalhos caritativos, onde se entregava com boa vontade. Eram
aconselhamentos na salinha do “atendimento fraterno”, entre tantas outras tarefas
que assim como vários outros médiuns ele executava.
Depois de mais de dezoito anos naquele templo, servindo,
aprendendo e doando-se, um dia sentiu-se extenuado, triste e mecânico como um
robô! Eram os mesmos problemas, as mesmas reclamações, as mesmas doenças, as
mesmas caras de infelicidade... um entra e sai de pessoas tão diferentes entre
si, mas com os mesmos dramas, sofrimentos e dores. As culpas, os
arrependimentos e os ódios de sempre... Ele até “adivinhava” só de olhar para a
face do consulente; “já sei” pensava ele consigo mesmo “pelo semblante e
postura, isso é caso de coração partido!”... Não demorava muito para que
confirmasse suas intuições, através da confissão discreta do consulente!
Ele não ligava mais para os agradecimentos e elogios perigosos dos
irmãos de caminhada nem para a inveja dos colegas médiuns incautos, seus irmãos
em Cristo. Ligava mesmo era para a indiferença de alguns que passavam por ali como
quem passa por um parque de diversões!
Uma fila interminável de consulentes desalentados que ouviram
falar do médium Alberto, que recebia entidades fortes e dava conselhos
fantásticos aos irmãos aflitos, que parecia ler os pensamentos das pessoas e “adivinhar-lhes”
os dramas. Por isso era tão comentado e procurado por muitos. Conseguia dar o
conselho certo de acordo com o pedido, desabafo ou reclamação de um consulente,
o mesmo saía daquele lugar sentindo-se renovado e disposto a mudar a vida... até
que um dia, foi ele quem precisou de aconselhamentos e muita ajuda!
Aos pés da entidade espiritual, que atuava através de seu médium,
Alberto desabafou, chorou e como qualquer mortal pediu ajuda.
Alberto: _Meu pai, não aguento mais minha vida, sinto um peso enorme em
meus ombros. Uma tristeza enorme me invade e não tenho prazer... será que isso
é carma? Gosto de estar aqui, mas tem gente que pensa que sou “Jesus” coitados!
Eles acham que sou capaz de dar respostas, assim como os guias que incorporam
em mim! Eu tento explicar, mas não adianta eles sempre me veem como alguém
especial! O que eu estou longe de ser! O tempo da vaidade em mim se foi com as
decepções e aquela ansiedade dos primeiros tempos também... o que eu fiz de
errado? Por que me sinto assim?
Pai Velho: _Zin fio, seu problema é o mesmo de todo mundo que vem aqui.
Esqueceu de cuidar da própria vida e de usar seus bons conselhos para resolver
os próprios problemas. Vou te dar um conselho simples, mas eficaz para quem o
escuta; tira a trave que está no teu olho antes mesmo de querer retirar o cisco
no olho alheio! Não deixe de ajudar o teu irmão que te procura em segredo,
porque a caridade pra ser, tem que ser dada de graça e com amor, mas não deixe
de fazer a caridade pra si!
Alberto fez breve pausa, respirou fundo e mergulhou pra dentro de
si... fechou os olhos e sentiu o coração bater forte e acelerado, viu os filhos
em casa cada um para um canto, largados, infelizes e carentes de atenção, viu
os mesmos ilhados por brinquedos caros, alta tecnologia, computador, tablets,
celulares, entre outras infinidades de “brinquedinhos” tecnológicos, mas com os
mesmos semblantes tristes dos que iam até o templo espiritualista.
Viu a imagem da esposa formar-se em sua frente mais rápida do que
a velocidade da luz, triste e reclamando de tudo, fazendo cobranças e
jogando-lhe na cara as mágoas e culpas. Lembrou-se que tratava sua esposa como
uma irmã, ausentando-se das obrigações de marido. Estava ofendido pelas
cobranças “injustas” que lhe fizera. Recordou-se num átimo de tempo das formas
sensuais da amante e de seu semblante jovial e belo, onde se perdera com
paixão...
Os pensamentos e imagens surgiam e se fragmentavam em sua tela
mental, recordou que estava em falta com os pais idosos, pois não os visitava
há meses e percebeu pouco a pouco, enquanto abria os olhos lacrimejantes, que
havia esquecido de si mesmo, responsabilizava a vida, os outros, nunca a si
mesmo.
Alberto: _ Verdade paisinho, quantas plantinhas venenosas deixei que se
alastrassem no canteiro de meu espírito, não cuidei de mim mesmo! Sou um
miserável!
Pai velho: _ Não se puna assim, zin fio! O auto perdão é sua maior fortaleza
e proteção. Agora é o momento de suncê retirar a trave do teu olho, vai
enquanto tem tempo e pode! Que Oxalá te guie!
Os médiuns são pessoas comuns como quaisquer outras. Nem mais nem
menos! Têm problemas, dificuldades, fragilidades e imperfeições! Não se tratam
de “santos” nem de “seres especiais”, mas sim de humanos que como qualquer
pessoa, que também precisam fazer a reforma íntima!
Axé!
Letícia Gonçalves
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