O homem, como espírito encarnado, não precisa evoluir para
"ganhar mais luz, nem morrer fisicamente para sobreviver em espírito, pois
ele já vive na própria carne, a posse de sua essência indestrutível. A medida
que o ser se purifica torna o seu perispírito mais transparente e por isso
irradia mais luz, assim como a limpeza da lâmpada empoeirada proporciona maior
amplitude ao foco luminoso. Deus é o fundamento indestrutível da consciência
humana, por cujo motivo a "Gênesis" assegura que o "homem foi
feito à imagem de Deus", e Jesus, mais tarde, confirma esse dístico,
dizendo-nos: "Vós sois deuses!"
— Em certo ensejo de visita à Crosta, assisti trabalhos
mediúnicos cujos videntes anunciavam quando o espírito "ganhava luz",
de acordo com a maior ou menor aquiescência aos argumentos dos doutrinadores! —
interrompeu belíssima jovem, cujo traje lembrava a tradicional samaritana
bíblica.
Apolônio sorriu, dizendo, explicativo:
— Espírito atrasado é apenas a entidade de perispírito muito
denso, devido a crosta de resíduos impuros ali aderidos ou petrificados sob o descontrole
das paixões ou dos vícios deploráveis e da ignorância intelectual. O invólucro
muito denso não deixa filtrar
para o exterior a chama de luz que palpita no âmago do
próprio ser!
Depois de uma pausa significativa, e talvez analisando o
efeito de suas próprias palavras, Apolônio concluiu:
— O espírito não "ganha luz" em determinada época de
sua vida, porque já é entidade modelada na luz do próprio Deus! Quando o homem
se animaliza, ele peca e adensa a sua vestimenta perispiritual reduzindo a
irradiação de luz; mas' na prática das virtudes e na aquisição de sabedoria,
então clareia o seu envoltório expandindo maior luminosidade. — Mudando o tom
de voz, logo acrescentou — Bem, vamos tratar do assunto principal de nossa
reunião aqui no "Anfiteatro das Papoulas". E concernente ao
futuro de alguns espíritos de-nossa milenária 'afeição. Subiu
ao estrado e sentou-se na cômoda poltrona de matiz estranho luminoso, enquanto os
outros espíritos acomodavam-se nos bancos recortados na luxuriante vegetação e
próximos ao formoso lago enfeitado de papoulas. — A convocação de hoje é de
avultado interesse para a metrópole sideral "Estrela Branca", centro
diretor da colônia espiritual "Bem aventurança", em que estagiamos.
Trata-se de um carma coletivo muito severo engendrado pelos "Senhores do
Carma",
Terra, para o próximo século XX e com a finalidade de
reajustar perante a Lei Espiritual milhões de espíritos endividados desde os
templos bíblicos. (4) São liquidações de tropelias,. morticínios e massacres
cometidos por milhões de seres desde-a época de David, o filho de Salomão, o
qual também renascerá na Crosta tornando-se o "detonador psíquico" das
provas aflitivas dos próprios comparsas do passado, os quais, em sua maioria,
envergarão o traje carnal da raça judaica.
— Evidentemente, o general que engendra a destruição é. o
principal responsável por morticínios, atrocidades e injustiças dos seus
soldados, não é assim? — indagou um espírito devasta cabeleira grisalha, cuja
vestimenta branca e de talhe nazarenico era recoberta por um belo manto azul
marinho. — Sem dúvida, o general é o responsável pela "permissão"'
concedida aos seus comandados para praticarem vinganças e crueldade sobre os
vencidos. Mas é evidente que os soldados também gozam do "livre
arbítrio" para cumprir ou rejeitar a ordem cruel e destruidora do comandante,
pois isso é problema de responsabilidade de cada combatente. Há guerreiros
inspirados por bons sentimentos que poupam os vencidos, enquanto outros vazam o
ódio e as frustrações deles na sanha destruidora de massacrar velhos, crianças
e mulheres indefesas. Porém, nenhum soldado é obrigado a incendiar ou tripudiar
sobre os lares dos vencidos, massacrar os habitantes pacíficos, como ainda
acontece nas guerras terrenas, porquanto isso é decisão íntima e pessoal do
combatente, em vez de atribuí-la à responsabilidade exclusiva do
general-comandante.
— Porventura, o soldado não é obrigado a cumprir as ordens do
comandante? O pelotão de fuzilamento encarregado de executar criminosos sentenciados
pelo poder civil ou inimigos punidos pelo poder militar de segurança pública,
deve recusar-se a cumprir os ditames da Lei? — objetou um espírito majestoso,
com os trajes característicos de um árabe. Apolônio sorriu, e fazendo um gesto
compreensivo com a cabeça, respondeu:
— Meus irmãos: mata quem quer! Alguém poderia obrigar Jesus,
Buda, Francisco de Assis ou Ghandi a matar, mesmo oficialmente? Acaso eles
seriam capazes de trucidar crianças, mulheres ou velhos indefesos, só porque
estão' autorizados pelo comando superior?
Quem poderia conceber o amorável Jesus na mira de um fuzil,
tentando acertar no coração de um sentenciado?
— Bem, — insistiu o árabe — Sem dúvida, esses espíritos
jamais praticariam qualquer ato de destruição. Mas que devem fazer os soldados
submissos a um comando tirano e cruel?
— Isso é decisão íntima de cada combatente, pois ele tanto
pode optar pela atitude pacífica do Cristo e pc-doar o vencido, ou trucidá-lo obedecendo
aos chefes belicosos e vingativos. Em qualquer momento o homem dispõe do direito
de matar para não morrer, ou morrer para não matar! Indubitavelmente, isso há
de variar conforme o seu maior ou menor apego à vida carnal, porque Jesus não
só valorizou o preceito pacífico do 5.° mandamento, "Não Matarás",
assim como afirmou, "Quem perder a vida por mim, ganhá-la-á".
(5) Caso todos os soldados se recusassem a matar, contrariando
as ordens cruéis dos comandos perversos, é óbvio que as guerras também se extinguiriam
por falta de agentes de destruição. Temos o exemplo das legiões de Maurício:
convocadas para destruir, preferiram morrer em vez de matar! (6) Enquanto os
ouvintes silenciavam, meditando nas palavras expressivas de Apolônio, ele
mudava o curso da palestra e prosseguia:
— De acordo com o calendário terrícola, transcorre na Terra,
atualmente, o século XIX, enquanto pelo nosso calendário sideral estamos no dia
de Pisces. (7) Sabem que os Psicólogos Siderais baseiam suas previsões do
futuro na marcha pregressa da humanidade, e assim no primeiro terço do século
XX, deverá eclodir na Crosta uma Guerra de grandes proporções, iniciada pelos
espíritos remanescentes de Esparta, atualmente os alemães, em hostilidade com
velhos atenienses encarnados como franceses. Será uma hecatombe de repercussão internacional
alastrando-se por toda a Europa e convocando egressos das civilizações babilônicas,
assírias, egípcias e mongólicas,
inclusive componentes do antigo Império Romano, agora transformados em povos
norte-americanos, ingleses e italianos.
Depois de coordenar as ideias, Apolônio explicou:
— Convoquei-os para esta reunião importante, porque todos
nós estamos ligados a diversos espíritos familiares bastante comprometidos com
um pretérito delituoso de atrocidades e equívocos espirituais.. Eles aliam o
orgulho e a ambição indomáveis comandando falanges belicosas no astral
inferior, esperançados de exercerem o domínio absoluto sobre o mundo carnal.
Depois de longas meditações, lembrei-me de situar os nossos réprobos familiares
no grande "carma coletivo" dos hebreus, a ser resgatado na próxima
conflagração europeia. Em contato com o "Departamento Sideral de
Regeneração" sobre o território germânico, examinei os gráficos das provas
dolo-. rosas e retificadoras dos judeus e consegui permissão para ajustarmos os
nossos rebeldes sob o mesmo esquema redentor. Meus irmãos sabem que ainda
restam onze membros de nossa linhagem espiritual em atividade nas regiões sombrias,
vivendo alternativas de revoltas, enfermidades, hipertrofias perispirituais e
feroz agressividade contra qualquer apelo ou providências dos servidores do
Cristo-Jesus. Eles se obstinam na condição de tiranos, inquisidores e conquistadores,
atualmente filiados às falanges dos "Dragões",
"Escorpiões" e "Serpente Vermelha", inimigos fidagais da "Comunidade
Espiritual do Cordeiro", pretendendo o absurdo de controlarem as próprias encarnações
na face da Terra. Defendem o "slogan" de que o mundo material é dos homens,
e o céu dos anjos, mas o fazem de modo pejorativo, julgando viril a
personalidade humana e afeminada a linhagem angélica. Nós, também, trilhamos os
caminhos da perversidade e obstinação diabólica, quando vivíamos cegados pelo
orgulho do "ego inferior"; mas, depois vibramos ao toque da graça Divina
e reconhecemos a sublimidade da vida superior. Em consequência, precisamos
dispender todos os esforços e sacrifícios para salvar os nossos queridos
réprobos de um ruivo exílio planetário e nova queda angélica. (8) Eles se negam
peremptoriamente a qualquer empreendimento ou evento crístico, que lhes possa atenuar
a brutalidade animal em favor do cidadão celeste. Entretanto, como a angelização
principia no âmago do ser, através do discernimento espiritual e não por controle
remoto a cargo do mestre da evolução, os réprobos deverão aceitar
espontaneamente a própria purgação benfeitora na carne. Devido ao avançado
desenvolvimento mental deles, todas as vezes que os situamos na carne assumiram
poderes no alto comando político do mundo, mobilizando homens egoístas,
corruptos e inescrupulosos, para lograrem os seus objetivos contra o bem e o
belo!
Do Livro: Semeando e Colhendo –
Atanagildo/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.
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