sábado, 23 de maio de 2015

ANJOS REBELDES - II





O homem, como espírito encarnado, não precisa evoluir para "ganhar mais luz, nem morrer fisicamente para sobreviver em espírito, pois ele já vive na própria carne, a posse de sua essência indestrutível. A medida que o ser se purifica torna o seu perispírito mais transparente e por isso irradia mais luz, assim como a limpeza da lâmpada empoeirada proporciona maior amplitude ao foco luminoso. Deus é o fundamento indestrutível da consciência humana, por cujo motivo a "Gênesis" assegura que o "homem foi feito à imagem de Deus", e Jesus, mais tarde, confirma esse dístico, dizendo-nos: "Vós sois deuses!"
— Em certo ensejo de visita à Crosta, assisti trabalhos mediúnicos cujos videntes anunciavam quando o espírito "ganhava luz", de acordo com a maior ou menor aquiescência aos argumentos dos doutrinadores! — interrompeu belíssima jovem, cujo traje lembrava a tradicional samaritana bíblica.
Apolônio sorriu, dizendo, explicativo:
— Espírito atrasado é apenas a entidade de perispírito muito denso, devido a crosta de resíduos impuros ali aderidos ou petrificados sob o descontrole das paixões ou dos vícios deploráveis e da ignorância intelectual. O invólucro muito denso não deixa filtrar
para o exterior a chama de luz que palpita no âmago do próprio ser!
Depois de uma pausa significativa, e talvez analisando o efeito de suas próprias palavras, Apolônio concluiu:
— O espírito não "ganha luz" em determinada época de sua vida, porque já é entidade modelada na luz do próprio Deus! Quando o homem se animaliza, ele peca e adensa a sua vestimenta perispiritual reduzindo a irradiação de luz; mas' na prática das virtudes e na aquisição de sabedoria, então clareia o seu envoltório expandindo maior luminosidade. — Mudando o tom de voz, logo acrescentou — Bem, vamos tratar do assunto principal de nossa reunião aqui no "Anfiteatro das Papoulas". E concernente ao
futuro de alguns espíritos de-nossa milenária 'afeição. Subiu ao estrado e sentou-se na cômoda poltrona de matiz estranho luminoso, enquanto os outros espíritos acomodavam-se nos bancos recortados na luxuriante vegetação e próximos ao formoso lago enfeitado de papoulas. — A convocação de hoje é de avultado interesse para a metrópole sideral "Estrela Branca", centro diretor da colônia espiritual "Bem aventurança", em que estagiamos. Trata-se de um carma coletivo muito severo engendrado pelos "Senhores do Carma",
Terra, para o próximo século XX e com a finalidade de reajustar perante a Lei Espiritual milhões de espíritos endividados desde os templos bíblicos. (4) São liquidações de tropelias,. morticínios e massacres cometidos por milhões de seres desde-a época de David, o filho de Salomão, o qual também renascerá na Crosta tornando-se o "detonador psíquico" das provas aflitivas dos próprios comparsas do passado, os quais, em sua maioria, envergarão o traje carnal da raça judaica.
— Evidentemente, o general que engendra a destruição é. o principal responsável por morticínios, atrocidades e injustiças dos seus soldados, não é assim? — indagou um espírito devasta cabeleira grisalha, cuja vestimenta branca e de talhe nazarenico era recoberta por um belo manto azul marinho. — Sem dúvida, o general é o responsável pela "permissão"' concedida aos seus comandados para praticarem vinganças e crueldade sobre os vencidos. Mas é evidente que os soldados também gozam do "livre arbítrio" para cumprir ou rejeitar a ordem cruel e destruidora do comandante, pois isso é problema de responsabilidade de cada combatente. Há guerreiros inspirados por bons sentimentos que poupam os vencidos, enquanto outros vazam o ódio e as frustrações deles na sanha destruidora de massacrar velhos, crianças e mulheres indefesas. Porém, nenhum soldado é obrigado a incendiar ou tripudiar sobre os lares dos vencidos, massacrar os habitantes pacíficos, como ainda acontece nas guerras terrenas, porquanto isso é decisão íntima e pessoal do combatente, em vez de atribuí-la à responsabilidade exclusiva do general-comandante.
— Porventura, o soldado não é obrigado a cumprir as ordens do comandante? O pelotão de fuzilamento encarregado de executar criminosos sentenciados pelo poder civil ou inimigos punidos pelo poder militar de segurança pública, deve recusar-se a cumprir os ditames da Lei? — objetou um espírito majestoso, com os trajes característicos de um árabe. Apolônio sorriu, e fazendo um gesto compreensivo com a cabeça, respondeu:
— Meus irmãos: mata quem quer! Alguém poderia obrigar Jesus, Buda, Francisco de Assis ou Ghandi a matar, mesmo oficialmente? Acaso eles seriam capazes de trucidar crianças, mulheres ou velhos indefesos, só porque estão' autorizados pelo comando superior?
Quem poderia conceber o amorável Jesus na mira de um fuzil, tentando acertar no coração de um sentenciado?
— Bem, — insistiu o árabe — Sem dúvida, esses espíritos jamais praticariam qualquer ato de destruição. Mas que devem fazer os soldados submissos a um comando tirano e cruel?
— Isso é decisão íntima de cada combatente, pois ele tanto pode optar pela atitude pacífica do Cristo e pc-doar o vencido, ou trucidá-lo obedecendo aos chefes belicosos e vingativos. Em qualquer momento o homem dispõe do direito de matar para não morrer, ou morrer para não matar! Indubitavelmente, isso há de variar conforme o seu maior ou menor apego à vida carnal, porque Jesus não só valorizou o preceito pacífico do 5.° mandamento, "Não Matarás", assim como afirmou, "Quem perder a vida por mim, ganhá-la-á".
(5) Caso todos os soldados se recusassem a matar, contrariando as ordens cruéis dos comandos perversos, é óbvio que as guerras também se extinguiriam por falta de agentes de destruição. Temos o exemplo das legiões de Maurício: convocadas para destruir, preferiram morrer em vez de matar! (6) Enquanto os ouvintes silenciavam, meditando nas palavras expressivas de Apolônio, ele mudava o curso da palestra e prosseguia:

— De acordo com o calendário terrícola, transcorre na Terra, atualmente, o século XIX, enquanto pelo nosso calendário sideral estamos no dia de Pisces. (7) Sabem que os Psicólogos Siderais baseiam suas previsões do futuro na marcha pregressa da humanidade, e assim no primeiro terço do século XX, deverá eclodir na Crosta uma Guerra de grandes proporções, iniciada pelos espíritos remanescentes de Esparta, atualmente os alemães, em hostilidade com velhos atenienses encarnados como franceses. Será uma hecatombe de repercussão internacional alastrando-se por toda a Europa e convocando egressos das civilizações babilônicas, assírias, egípcias e mongólicas, inclusive componentes do antigo Império Romano, agora transformados em povos norte-americanos, ingleses e italianos.
Depois de coordenar as ideias, Apolônio explicou:
— Convoquei-os para esta reunião importante, porque todos nós estamos ligados a diversos espíritos familiares bastante comprometidos com um pretérito delituoso de atrocidades e equívocos espirituais.. Eles aliam o orgulho e a ambição indomáveis comandando falanges belicosas no astral inferior, esperançados de exercerem o domínio absoluto sobre o mundo carnal. Depois de longas meditações, lembrei-me de situar os nossos réprobos familiares no grande "carma coletivo" dos hebreus, a ser resgatado na próxima conflagração europeia. Em contato com o "Departamento Sideral de Regeneração" sobre o território germânico, examinei os gráficos das provas dolo-. rosas e retificadoras dos judeus e consegui permissão para ajustarmos os nossos rebeldes sob o mesmo esquema redentor. Meus irmãos sabem que ainda restam onze membros de nossa linhagem espiritual em atividade nas regiões sombrias, vivendo alternativas de revoltas, enfermidades, hipertrofias perispirituais e feroz agressividade contra qualquer apelo ou providências dos servidores do Cristo-Jesus. Eles se obstinam na condição de tiranos, inquisidores e conquistadores, atualmente filiados às falanges dos "Dragões", "Escorpiões" e "Serpente Vermelha", inimigos fidagais da "Comunidade Espiritual do Cordeiro", pretendendo o absurdo de controlarem as próprias encarnações na face da Terra. Defendem o "slogan" de que o mundo material é dos homens, e o céu dos anjos, mas o fazem de modo pejorativo, julgando viril a personalidade humana e afeminada a linhagem angélica. Nós, também, trilhamos os caminhos da perversidade e obstinação diabólica, quando vivíamos cegados pelo orgulho do "ego inferior"; mas, depois vibramos ao toque da graça Divina e reconhecemos a sublimidade da vida superior. Em consequência, precisamos dispender todos os esforços e sacrifícios para salvar os nossos queridos réprobos de um ruivo exílio planetário e nova queda angélica. (8) Eles se negam peremptoriamente a qualquer empreendimento ou evento crístico, que lhes possa atenuar a brutalidade animal em favor do cidadão celeste. Entretanto, como a angelização principia no âmago do ser, através do discernimento espiritual e não por controle remoto a cargo do mestre da evolução, os réprobos deverão aceitar espontaneamente a própria purgação benfeitora na carne. Devido ao avançado desenvolvimento mental deles, todas as vezes que os situamos na carne assumiram poderes no alto comando político do mundo, mobilizando homens egoístas, corruptos e inescrupulosos, para lograrem os seus objetivos contra o bem e o belo!

Do Livro: Semeando e Colhendo – Atanagildo/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.

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