Era sexta-feira, dia
de receber as bênçãos no templo umbandista. Carla já estava na porta adentrando
o recinto. Olhar firme, passos rápidos, expressão facial de quem não sorria há
muito, mas ela caminhava firme em direção de um dos trabalhadores daquela casa,
falavam-se cordialmente e minutos após a jovem senhora assentava-se. Em pouco tempo os
trabalhos caritativos tinham seu início e os visitantes lotavam o salão
principal, desejosos de respostas para suas dúvidas e de medicamentos “milagrosos”
para seus males. Uma palestrante muito
competente e disciplinada dava início aos estudos daquela noite, e todos aos
poucos, iam sendo encaminhados aos tratamentos mediúnicos conforme suas necessidades.
Uns eram encaminhados ao atendimento fraterno, outros ao passe magnético,
alguns outros aos tratamentos mais específicos como cirurgias espirituais para o
melhoramento e/ou o fim das moléstias de toda ordem, dentro de uma ordem de
merecimento conquistado. Carla, que fazia
tratamento já há algum tempo na casa, naquele momento era encaminhada para
atendimento com entidade espiritual. Foi levada até uma sala muito bem
ventilada, com alguns médiuns já sob a vibração de seus mentores espirituais,
doando-se em trabalhos caritativos em nome do Cristo.
A jovem senhora de
porte elegante e simples ao mesmo tempo, tomou o seu lugar de consulente,
esperando a entidade ali presente que vibrava em seu médium, dar início aquele atendimento
espiritual.
A entidade olhou-a
com o afeto de sempre, cumprimentando-a com um sorriso simpático, enquanto
batia-lhe suavemente com folhinhas de arruda nos ombros, como se “varresse” as
energias estagnadas e inferiores de sua aura.
Entidade:
_Salve, filha! Que Jesus Cristo lhe abençoe! Qual o motivo de tanta tristeza hoje,
filha, já que a vida na Terra é uma bênção que Deus nos concede?
A
entidade espiritual, exímia em auscultar as dores da alma de seus irmãos
encarnados, dava tempo para Carla organizar os pensamentos, enquanto
observava-lhe as cores do campo áurico, os chacras e a energia que fluía deles.
Dava-lhe agora passes magnéticos enquanto a moça falava-lhe...
Carla:
_Salve paisinho! A minha tristeza é a mesma de sempre, infelizmente. Eu gostaria
de saber por que sofro tanto com a solidão? Meu Deus! Eu não dei sorte no amor,
não consegui ficar casada mais do que cinco anos... nunca consegui fazer sequer
um amigo fiel! – desabafou entre
lágrimas. _Tanto tempo se passou e ainda estou sozinha, gostaria de me
casar novamente, paisinho. Por que sou tão só?
Carla
deixou duas lágrimas pesadas caírem sobre sua delicada face, abaixou a cabeça
enquanto escondia as pequeninas mãos entre os joelhos como se desejasse
intimamente fugir para esconder sua
dor do mundo.
A entidade que de seu caso já sabia, com paciência escutou e esperou momento adequado para lhe falar no campo do coração sofrido e amargurado, esperando o momento certo para plantar-lhe a semente da esperança.
A entidade que de seu caso já sabia, com paciência escutou e esperou momento adequado para lhe falar no campo do coração sofrido e amargurado, esperando o momento certo para plantar-lhe a semente da esperança.
Entidade:
_Mas filha, nem sempre o sofrimento é ruim como muitos pensam, é sinal de que
mudanças estão ocorrendo e de que o espírito encarnado, nesse caso suncê, está
se movimentando mesmo com as dificuldades. Isso ajuda a crescer com experiência e com conhecimento... Por
que a filha não usa essa dor para crescer?
Carla:
_Queria
tanto deixar de ser tão só... essa dor de que o senhor fala, para mim é
insuportável! Muito ruim é ser só e não ter amigos, é ruim sentir saudades de
uma vida que não vivi... Como posso usar uma dor tão grande para crescer? Paisinho
me desculpe, mas não quero sofrer, não aceito essa solidão, não gosto de me
sentir o “patinho feio” da história. Ajude-me, por favor!
Ela
deixou que o pranto copioso lhe dominasse e de cabeça baixa, ombros caídos, olhos
fechados e mãos escondidas, aquela mulher entregou-se ao desespero. Percebendo
sua situação o preto velho deu-lhe mais alguns passes, entoou um mantra e depois
disse-lhe em tom ameno e amoroso:
Entidade:
_Minha
filha, ouça com atenção o que vou dizer: ninguém sofre nesse mundo
injustamente. Como eu disse momentos antes, mas de outra forma, de certa maneira
o sofrimento faz o espírito evoluir porque extrai dele através da dor moral, as
culpas passadas, os erros, as injustiças e as maldades que cometeu outrora.
A entidade fez pausa
enquanto olhava com ternura para a consulente, enviando para o seu chacra
cardíaco luzes e suaves essências de ervas medicinais, afim de que ela se
acalmasse mais para que seu espírito recebesse as energias superiores da cura e
do amor. Enquanto isso, Carla ia dolorosamente assimilando os aconselhamentos
do amoroso preto velho, entendendo a dinâmica da vida e percebendo a Justiça
Divina atuando em sua vida. Aquela mulher sofrida ouvia e compreendia a
verdade, porque sua consciência lhe dizia algo lá em seu íntimo e no fundo ela
sabia da verdade, a de que não existem injustiçados e de que Deus não beneficia
uns em detrimento de outros.
Entidade:
_É tempo de aprender, minha irmã. Sua solidão vem pra você em hora apropriada
porque Deus não desampara seus filhos, mas os corrige. Agora no ápice da dor a
irmã aprende o valor de um amigo, a importância que tem a família em nossa
vida. A filha então, nesse momento descobre como como é bom amar e ser amado e
percebe então nas entrelinhas das encarnações o que Deus lhe quer dizer: Se
está hoje sozinha, se o casamento não prosperou, se os amores do pretérito não
passaram de meras ilusões que a paixão obrigou, se a filha sente saudades do
que não foi, é tempo de aprender que não se brinca com sentimentos alheios e
não se machuca corações! Hoje a sua solidão serve para lhe mostrar a importância
das pessoas em nossas vidas...
Carla
compreendia agora o seu carma, sentia-se entre envergonhada e aflita, mas a
entidade com seu amor paternal e conhecimento profundo sobre a vida, acalmava-lhe
a alma dorida mostrando-lhe a necessidade de continuar a caminhada sem parar,
sem desistir e com mais fé e vontade de melhorar. Ela assimilava tudo que lhe
era dito entre lágrimas de um arrependimento tardio, mas necessário
.
.
Carla:
_Então não devo mais ter esperanças? Meu castigo é esse?
Entidade:
_Deus não castiga a nenhuma de suas criaturas, filha. Você deve ter fé no Pai
Maior e construir em si a esperança a cada dia como um tijolinho que compõe a
construção da sua vida. Nada é fácil para quem é jovem andarilho nas estradas
da evolução. Tenha esperanças e fé, trabalhe com amor sua mudança e estude para
tirar dos olhos a venda da ignorância. Cada um de nós um dia passará pela dor
da solidão, pela desilusão, pela saudade e pela carência. São os ensinamentos
necessários para aprendermos a valorizar os nossos companheiros e amigos de
caminhada. Filha, nosso plantio é livre.
Depois que o fizermos, nossa colheita será de acordo com o que plantarmos
então, veja bem, não podemos colher morangos de um espinheiro.
A entidade acoplada
em seu médium deixou uma pausa proposital para que nossa personagem assimilasse
e compreendesse de forma tranquila os ensinamentos, enquanto isso Carla sofria com as duras, mas
importantes revelações da entidade, mas
deixava nascer a esperança em seu coração, estava disposta a mudar suas
atitudes e a se conhecer através da reforma íntima.
Ela entendeu que
estava colhendo os frutos do plantio anterior, os frutos da solidão e da
carência. Sabia agora de alguma forma que Deus só nos concede na vida aquilo de
que somos dignos e merecedores.
Reflitamos!
Letícia E. Gonçalves
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