quarta-feira, 2 de agosto de 2017

GENTE QUE NÃO CONFIA EM GENTE





Longe de pretendermos ser os donos da verdade, gostaríamos de discorrer com a simplicidade de sempre sobre a falta de confiança que depositamos uns nos outros.
Nosso ponto de partida para a compreensão do mundo somos nós mesmos, não temos outra referência a não ser as comparações que fazemos partindo de nós mesmos. Isto é, julgamos os outros como julgamos a nós mesmos e fazemos isso na maioria das vezes,  de forma inconsciente.

Tudo o que temos são nossas impressões sobre as experiências vividas no passado (vidas anteriores) e no presente (encarnação atual), as sensações ruins e boas diante de coisas,  pessoas e de lugares, são na verdade, uma memória “armazenada” em nossa alma que de acordo com as novas experiências no campo da vida vamos reagindo inconscientemente de forma positiva ou negativa e na maioria das vezes, sem explicação, isto é, gostamos ou não gostamos.
Isso na minha modesta opinião significa que medimos as pessoas com a mesma medida que nos medimos, entretanto, muitos de nós já consegue heroicamente ter mais de uma visão de mundo (esforço evolutivo) através do autoconhecimento, alcançando a capacidade de olhar para o outro e julgá-lo apenas sob a observação de seus atos e ações, sem fazer uma comparação baseada nas nossas próprias ações, buscando em nossos arquivos milenares de memória, algo que nos seja familiar e negativo ou não. 
Exemplificarei: 
Antes é necessário salientar que o fenômeno se dá de forma inconsciente, pois não percebemos que estamos comparando ou julgando atos, manias e até as capacidades alheias de acordo com as nossas próprias.
Há pessoas que foram criadas num regime de medo e de inseguranças que herdaram de seus pais ou responsáveis durante sua infância, ideias preconcebidas de um mundo só ruim e violento, onde nada de bom prospera e que os homens são somente maus e incorrigíveis. Imaginemos o sentimento dessas milhares de criaturas que crescem nesse regime pesado de medo, nutrindo-se negativa e constantemente durante sua vida, de ideias inferiozadas, em que a criatura humana não se regenera. Vivem numa atmosfera de pessimismo, crescem inseguras e veem o mundo da mesma forma, observando mais os defeitos e erros das pessoas à sua volta, dando mais ênfase às falhas  do que às boas  virtudes.  
Atentemos para o fato de que essas milhares de consciências não percebem que são excessivamente pessimistas porque esse fato se dá na mente inconsciente (na maioria dos casos), elas apenas sentem e vivem da forma como foram criadas, mas também se sabe que muitas, milhares em todo mundo rompem com essas barreiras não naturais e não  saudáveis, mas muito comuns para libertarem-se da prisão do medo entre outros sentimentos sufocantes e patológicos. Vão em busca das respostas, vão em busca dos psicólogos, das terapias, dos tratamentos diversos que existem para liberarem-se das prisões mentais, medos, traumas, sentimentos e pensamentos muito enraizados na negatividade.
Para exemplificar como atitudes simples e consideradas “inofensivas” como, por exemplo, o próprio “boi da cara preta”, música de ninar que as mães, avós, tias, irmãs mais velhas, amas de leite, madrinhas e babás cantavam para seus protegidos, enquanto os envolviam em seus braços, já nos demonstra como o medo era e ainda é a forma primitiva e mais fácil de controlar o outro.
“Boi, boi, boi...
Boi da cara preta,
Pegue esse menino que tem medo de careta...” 
Muitos pais quando não têm condições de se liberar automaticamente da educação negativa, oriunda de uma cultura repressora ou mesmo não têm meios para tratar-se com profissionais qualificados na área da psicologia, por exemplo, vivem atormentados por manias e medos herdados que inconscientemente também passam para as futuras gerações e automaticamente causa-lhes sérios transtornos. 
Gente que não confia em gente tem sérias dificuldades para se expressar, para conviver em sociedade e para respeitar o espaço do outro. 
Em nossa cultura as mulheres criam seus filhos na maioria das vezes sozinhas ou passando a maior parte do tempo com elas. Muitas mães educam aos seus pequeninos  a verem a vida e as pessoas com certo receio e desconfiança. Isso, de certa forma, é preciso. Devemos sim zelar pela segurança dos menores, entretanto, há um excesso que ao invés de ensinar com sabedoria, desprepara e prejudica. 
Algumas mães intimamente não confiam em suas capacidades e habilidades, pois foram criadas num regime castrador, onde muitas ou milhares delas, cada uma em sua cultura e país de origem, ouvia constantemente que “não serviam para quase nada porque não eram capazes e não eram como os homens!” Essa forma negativa e errada de ver a mulher na sociedade, gerou e ainda gera bloqueios e enormes dificuldades na comunicação e na interatividade com o mundo.
Imaginemos essas mulheres acreditando que realmente são incapazes e inseguras criando seus filhos, netos, sobrinhos, afilhados, irmãos mais novos e ensinando-os o lado pessimista e perigoso da vida projetando neles toda a sua incapacidade. Estas pessoas com essa visão de mundo e profundamente incapazes de confiar em suas capacidades, veem suas crias tão indefesas e incapazes de enfrentar o mundo de hoje. Muitas as olham e pensam estas serem “predestinadas” a só sofrer, a  só se machucar, a só falhar e a só serem incapazes! E assim em muitos casos (não todos) as novas gerações continuarão herdando a visão de mundo pela lente negativa, isto é só vendo o lado ruim e “incorrigível” das pessoas, crendo que o mundo em que vivem nunca será melhor. Muitos desses pequeninos crescerão excessivamente  pessimistas, medrosos, tímidos e inseguros. Outros tantos por não serem incentivados a correr riscos, permanecerão estacionados entre o prazer da comodidade e do excesso de proteção paternal ou maternal (viver embaixo da asa dos pais)  e entre o medo de arriscar-se na “selva de pedra” para ganhar experiências aprendendo e evoluindo a partir dos próprios erros (auto correção e vontade de melhorar).
No tema “Gente que não confia em gente” ainda teremos os que protegem os filhos e filhas das batalhas difíceis do mundo, por acreditarem intimamente que eles não serão capazes de superar dificuldades e traumas. Os superprotegem e tentam a todo custo evitar que os mesmos resolvam seus próprios problemas, alegando que são apenas crianças. Mal sabem que os estão prejudicando em nome do amor excessivo.
É importante entendermos que Deus, em sua Infinita bondade e Amor, emprestou àquele pai ou mãe carnal outro espírito (como filho carnal) para que o auxiliasse e protegesse de forma equilibrada dentro do que é realmente necessário à sua integridade física e sistema emocional, para prepara-lo para a vida adulta, isto é, para que consiga de forma saudável enfrentar os embates tão naturais e próprios do mundo em que vivemos.
Vejamos bem, caros amigos e leitores, se superprotegermos nossos filhos privando-os dos primeiros bruxuleios de vida consciencial e dos sofrimentos e decepções tão naturais e necessárias, estaremos cometendo graves erros que no futuro baterão à nossa porta.   É no mínimo adequado que esse mesmo espírito que por hora está como criança, assimile aos poucos e de acordo com sua capacidade ainda infantil de ver e sentir o mundo, que há dificuldades e que estas obrigam a cada ser em cada época a saber defender-se e a superar-se. Mas isso, caros amigos, só se aprende vivendo e os pais precisam corrigir, educar e preparar sua prole para a real vida terrena que exige de cada um de nós, uma dose boa de auto estima, de coragem, de vontade e curiosidade de viver (incentivo dos pais) , sabendo que poderão sim sofrer, na infância, na juventude ou na velhice, ou seja, em qualquer época de nossas vidas estaremos diante dos testes. É preciso coragem para enfrenta-los e mais coragem ainda para superar. Isso é viver e ninguém deve nos tirar esse direito.
É de suma importância que os pequeninos aprendam a confiar. E gente que não confia em gente tende a fracassar na vida, tende a arriscar pouco e sofre muito mais do que aqueles que mesmo sabendo o quão é difícil a convivência em grupos, sejam estes familiares ou os que escolhemos para fazermos parte durante nossa vida terrena (tribos), sofrem. Como membros participantes de uma sociedade regida por sua cultura e religião, com todas as diferenças positivas ou negativas é preciso experienciar.
Gente que não confia em gente é assim porque não confia em si mesmo e não sabe intimamente disso. É preciso libertarmo-nos das teias ilusórias de um “mundo equivocado e medíocre” que quer que todos os outros também sejam assim.
Existe gente fantástica, maravilhosa, capacitada, genial, amorosa, inteligente, brilhante, caridosa e com belezas interiores inacreditáveis. Há gente em quem podemos confiar e amar. Encontraremos pelo mundo seres de rara beleza interior, todavia é importante compreendermos que todos somos falhos em algo e perdoar  é um exercício enobrecedor.
Devemos compreender nossos pais, avós, bisavós com amor e carinho, compreendendo-os dentro de um contexto de que foram criados em épocas em que havia total ou parcial repressão (de acordo com cada época).
Nossos pais só querem o nosso bem na grande maioria das vezes. Eles tendem a nos proteger da vida e com isso nos privam de certa forma, dos embates naturais porque não foram bem sucedidos outrora, desejando que não passemos pela mesma situação, evitam ao máximo expor-nos ou pelo menos tentam de todas as formas, mostrar-nos um caminho alternativo que muitas vezes não é o caminho que gostaríamos de trilhar. Eles se esquecem de que somos indivíduos, que somos únicos no Universo e que necessitamos voar. Por amor e por medo de que nos machuquemos com a vida tentam nos sabotar mostrando o lado bom da vida por sua própria lente, o que nem sempre é para nós o melhor, porém, é preciso olhar para cada um deles com a acolhida amorosa que perdoa tudo em nome do amor paternal e maternal, mas buscando a nossa libertação e o nosso próprio caminho.
Mas é importantíssimo que nos liberemos da desconfiança exagerada e do pessimismo que adoece a mente, muitas vezes herança de nossos pais, pois a vida realmente é um oceano de acontecimentos ora bons, ora ruins, mas o que para muitos de nós é considerado ruim ou péssimo, para Deus e para os Espíritos já libertos da roda das encarnações, é apenas aprendizado e a colheita que fazemos de acordo com o que no passado plantamos. Tudo é aprendizado e Mundos melhores nos aguardam, Escolas de nível superior nos esperam  em outros planos da vida, em outras dimensões para nos ensinar mais sobre o Universo e sobre Deus. Assim que estagiarmos neste planeta inferior, Escola de espíritos rudes e refratários (que passa pela transição planetária de planeta de dores e expiações para planeta de regeneração), isto é, assim que completarmos o ciclo evolutivo conforme este fora programado pelos Arquitetos Siderais em nome de Deus, iremos estagiar em planetas mais evoluídos e tomar ciência de um mundo melhor, repleto de seres educados e equilibrados, merecedores da verdadeira felicidade pelo próprio esforço.
Por hora, devemos aprender a ser gente que confia em gente  e ensinarmos aos nossos mais próximos o mesmo.

Reflitamos.

Letícia E. Gonçalves


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