Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaê viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os Orixás. Obaluaê não podia entrar na festa devido à sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do Orixá, cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou, mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas equedes.
Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam suas pestilências. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam, brancas, pelo barracão.
Obaluaê, o Deus da Doença, transformou-se num jovem, belo e encantador.
Obaluaê e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
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Sendo o Senhor da Terra e das suas camadas internas, Obaluaê remete-nos ao local de onde todos nós viemos e para onde voltaremos inexoravelmente. Daí sua ligação com os mortos, eis que o corpo físico sem vida lhe “pertence”; o que foi pego da terra, a partir do barro primordial, terá que ser devolvido.
Obaluaê está presente nos hospitais, nas alas de pacientes terminais, unidades oncológicas e de tratamento intensivo, sempre próximo aos leitos de morte, postos de saúde, prontos-socorros e locais de acidentes. Os mutilados, aleijados e enfermos têm o beneplácito da sua misericórdia. As doenças e moléstias sejam quais forem, em verdade tratam-se da cura perene do espírito que “sujou” suas “vestes” em atos passados.
Trecho retirado do livro: As Flores de Obaluaê – O poder curativo dos Orixás
Autor: Norberto Peixoto
Legião Publicações
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