O tema é demasiadamente
espinhoso, mas tentaremos de forma despretensiosa abordá-lo, de maneira simples
no intuito de chegar mais junto ao coração dos leitores desse blog, convidando-os à reflexão positiva e desprovida de
preconceitos.
Eu era médium
trabalhador de uma casa umbandista onde servi há mais de dezessete anos. Conheci
lá a moça com quem me casei e tive duas filhas. Fiz nesse templo alguns amigos
fiéis nesses anos dedicados à casa de caridade e desagradei tantos outros
incomodados com a minha presença “lá”. Entre tropeços e pequenas vitórias
caminhava titubeante e inseguro. O meu problema era conhecido pela
espiritualidade superior que ali assistia amorosamente os caídos e derrotados,
em nome do Cristo. Meu nome na Terra era
Claudinei e eu sofria imensamente com a falta de controle no campo do sexo. Era
um desregrado e por isso a culpa vez em quando me fazia visitas demoradas.
Não que eu fosse um
mentiroso e hipócrita por puro prazer, sofria por vestir o branco e aconselhar meus
irmãos em sofrimento a serem melhores, já que caia ainda mais no erro... mas eu
como qualquer miserável necessitado de amparo, recebia tanto do diretor da casa
como da espiritualidade Superior uma oportunidade de tratamento médico,
enquanto buscava servir com verdadeiro amor aqueles que me pediam ajuda dentro
do templo umbandista. Eu também era “o consulente” e recebia os medicamentos
dos quais era necessitado pela misericórdia divina.
Desde criança o sexo era
para mim algo “especial”, meus irmãos mais velhos traziam revistas, cujo
conteúdo não era indicado para menores. Entregavam-me as mais velhas já
rasgadas e entregues a poeira e as traças para dar novos espaços as que
acabavam de chegar, nas prateleiras de seus quartos... com um sorriso malicioso
nos lábios o meu irmão mais velho dizia que eu já era um “homenzinho” e que
deveria aprender desde cedo o que “era bom”. A malícia desde então crescia em
mim até que um dia, já rapaz fui com eles a uma casa de diversão para homens de pouca
moral... nunca mais me libertei dos desregramentos no campo sexual!
Abusei e fui abusado por
mulheres mais velhas, sedutoras e descompromissadas com o equilíbrio. Seduzi e
enganei, fui seduzido e enganado e me deliciava em orgias tenebrosas até o dia
em que caí doente e não levantei fácil. Fui diagnosticado com câncer
colorretal, depois de alguns incômodos físicos que não quis dar atenção no
início. Mas dos vários sintomas que me acometeram, a fraqueza e a perda de peso
acentuada me levaram às suspeitas mais negativas e preconceituosas por parte
dos familiares e vizinhos, até o diagnóstico correto dado pelo médico.
Minha luta iniciou-se
naquele momento, e, aos vinte e nove anos eu travava uma batalha para viver! Eu
queria viver e revoltei-me com a possibilidade de desencarnar tão jovem ainda,
então tentei de tudo para mudar essa realidade e também o medo que me assolava
a alma. O tratamento dava resultados satisfatórios apesar de todo o sofrimento
pelo qual tivemos que passar eu e meus familiares. Mas foi o tratamento
espiritual na casa de umbanda a qual fui levado por minha mãe, que me ajudou a
me conhecer e a entender parte da minha vida.
Vou confessar aos amigos
que orava muito e pedia incessantemente a Deus e aos guias para me darem mais
uma chance. Fui mudando minha postura diante da situação e do sofrimento físico
acerbo, parei de fumar e de beber. Quando obtive a cura para uma doença que na
maioria dos casos afeta pessoas acima dos cinquenta anos, eu ali naquela
situação já com um pouco mais de trinta anos de idade, prometi ajudar as
pessoas, tornando-me um homem melhor! Fui aceito na mesma casa de caridade onde
fui auxiliado pelos guias e depois de muito estudar e me modificar moralmente
(um pouco), pude servir vestindo o branco. Depois disso, algum tempo depois
casei-me e transformei-me num pai de família!
Minha esposa e eu nos
amávamos muito, mas ela não gostava de sexo, o que me causou imensos
transtornos. Caí muitas vezes na lama sujando novamente minha honra e levando
para o meu lar a energia putrefata daqueles que traem, mentem e se envolvem com
o desregramento sexual, mesmo tendo um lar, filhos e esposa. Aos poucos fui me
deixando seduzir pelos desejos sexuais reprimidos e animalizados que queriam
libertar-se novamente. O meu maior problema era a falta de sexo com minha
esposa mesmo sabendo que ela não era a culpada pelos meus desejos inferiores
inconfessáveis.
Quando Laura se negava a
mim eu sentia raiva, confesso, e quando a questionava ela dizia que sexo todos
os dias não era saudável e que deveríamos evitar os excessos. Mas eu sabia
intimamente que ela não gostava de sexo, que tinha lá suas dificuldades (nojo
mesmo)! No início do namoro mal podia lhe tocar, quando nos casamos no início
durante um certo tempo, minha esposa, permitia-me os carinhos e carícias com
certa desconfiança, mas após o nascimento de nossa segunda filha, com os
problemas de saúde da mais velha e com a monotonia instalada em nossas vidas,
sexo com ela ficara cada vez mais difícil! Isso meus amigos, aturdia-me o corpo
profundamente aflito e sedento para saciar-se a qualquer custo.
O jejum sexual a que era
obrigado contra minha vontade era-me um convite à educação sexual e ao
equilíbrio moral, mas não consegui acompanha-la e entreguei-me aos prazeres
mórbidos do sexo sem amor, nas ruas, com qualquer uma que me quisesse. De uma
amante discreta passei para a ter uma “namorada” em cada bar que voltei a
frequentar na surdina, sem que absolutamente “ninguém” soubesse. E em cada casa
de prostituição pela qual passei a conhecer, discretamente, pois não poderia
correr o risco de ser descoberto pela sociedade que me respeitava como o
“médium trabalhador”. Obviamente eu não queria mentir, enganar a mim mesmo, a
minha esposa nova oportunidade, mas não
conseguia conter-me, sofria demais em segredo e não tinha coragem de confidenciar
meus problemas aos irmãos de culto. Mas sabia que as entidades espirituais
amorosas me auscultavam o íntimo da alma.
Quantas vezes deixara de
frequentar as sessões dizendo uma mentira qualquer? Muitas! Me sentia um
monstro e por isso me afastara pensando que não era merecedor de frequentar local
de paz e de fraternidade ao lado dos retos e disciplinados trabalhadores
daquela casa. Certa vez, o irmão Paulo, dirigente da casa umbandista (nome
fictício), fora a minha casa fazer-nos uma visita e em momento oportuno, questionou-me
meu afastamento. Chamou-me educadamente à responsabilidade, lembrando-me de
minha missão. Dizia ele parecendo já saber dos meus dramas morais, que grande
oportunidade era a nossa, de criaturas endividadas podendo usar bem a
mediunidade a serviço do próximo! Mais ainda doía-me o espírito ao ouvir suas
palavras sábias, já que estando longe do caminho reto, não sentia-me digno de vestir
o branco. Lembro-me de que dei a desculpa de que não estava bem no trabalho e que
não estava sobrando tempo, pois precisava organizar-me, mas que iria em breve
retornar ao templo. E como se fosse hoje, recordo que irmão Paulo olhou-me nos
olhos fixamente, suspirando logo em seguida, fingindo não saber o que se
passava comigo.
E nos dias subsequentes,
a ansiedade tomava minha alma na expectativa de sair do trabalho para ir com
meu carro em busca do prazer e da luxúria nas ruas escuras e mal frequentadas
da cidade, gastando meu dinheiro com a prostituição. Isso se deu por mais
alguns anos de vergonha e lamentações íntimas acalentadas pelo punhal da culpa rasgando
minha alma. Quando chegava em casa tarde da noite, embriagado e sujo, deparava-me
com Laura a me inquirir, olhando-me nos olhos friamente enquanto os seus, marejados
de água, só se fechavam para minhas desculpas desonestas e absurdas.
Aos 41 anos de idade, desencarnei “vítima” do mal
súbito.
Alguns dias depois
despertei num quarto de hospital, com outros doentes ao meu lado em camas muito
bem limpas, num ambiente que mais parecia uma enfermaria... e era! Mas do plano
espiritual...
Autoria: Letícia E. Gonçalves
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