segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Os “causos” da Vovó Chica – Almas atormentadas



Era sexta-feira, noite de trabalhos caritativos e Dilermando encontrava-se ansioso esperando o momento de adentrar a sala do atendimento fraterno. Ele era o segundo da fila e aguardava em silêncio e esperançoso de que houvesse uma solução para os sofrimentos que sua alma atormentada enfrentava. Quando viu-se no fundo do poço, rogou a Deus que o socorresse pois não queria viver mais, os espíritos caridosos ouvindo suas súplicas lhe foram assistir de perto o sofrimento acerbo.
Uma vizinha, sabendo de sua desgraça ofereceu-lhe ajuda, disse que poderia conduzi-lo a uma casa de Umbanda que frequentava há anos, para que recebesse auxílio espiritual, socorro esse que aceitou como se se agarrasse a uma tábua de salvação.
Foi convidado a entrar na simpática e acolhedora salinha, no que fora recebido cordialmente por nobre senhor gentil e com um agradável sorriso nos lábios, que iniciou os primeiros diálogos esclarecedores.

_O irmão pode se abrir e falar o que se passa sem constrangimento, pois estamos todos no mesmo barco e somos irmãos em Cristo. Estamos aqui em breves momentos no corpo físico para experimentarmos alegrias e dissabores, afim de que cresçamos espiritualmente. Não há santos na Terra! O único ser iluminado e perfeito que aqui esteve foi Jesus, nosso Mestre e Guia Maior, que com seu Amor incondicional veio nos salvar de nós mesmos. – fez pausa rápida para que o consulente pudesse assimilar as informações e não se permitindo demorar para que as ideias não lhe fugissem da mente, acentuou: _Meu irmão, esta casa está aberta para todos os que buscam respostas e orientação, auxílio espiritual e uma nova perspectiva junto a Jesus Cristo. – sentindo-o extremamente ansioso concluiu perguntando: _Diga-me em que podemos servi-lo?
Dilermando, embora atordoado sentia-se mais calmo e amparado.  recebia de um espírito socorrista passes fluídicos que lhe desembaraçavam a mente obscurecida pelos pensamentos inferiores e doentio, esboçava na face pálida o semblante de angústia. Olhou para o jovem senhor a sua frente e falou: 
Dilermando: _Sinto-me um monstro! Só estou aqui por obra Divina, já que não consegui lograr êxito em minhas duas tentativas de suicídio. – suspirou fundo, enquanto apertava uma mão na outra nervosamente. _Sou casado há sete anos com uma mulher maravilhosa, uma santa! Francisca é seu nome, uma mulher dez anos mais nova que eu, muito bela e de alma sensível... no início eu a fazia feliz, mas depois de algum tempo com mais intimidade e sentindo que ela estava mais entregue a mim, tentei induzí-la a realizar minhas fantasias sexuais pervertidas, entretanto minha esposa recusou-se sentindo espécie de repulsa. – fez pausa para concatenar as ideias enquanto percorria o olhos pelo ambiente acolhedor, numa tentativa desesperada de buscar forças para continuar o relato. O atendente paciente lhe ouvia com atenção, demonstrando serenidade e equilíbrio.
_Francisca depois da maternidade passou a dedicar-se mais ao nosso filhinho e porque eu lhe forçava a me satisfazer os desejos mórbidos na hora do sexo, ela aprendera a se esquivar do meu assédio dissimulando dor de cabeça e cansaço, alegando que o nosso filho precisava de sua atenção. A revolta tomou-me a alma atormentada pouco a pouco e passei a olhar para outras mulheres com perverso desejo. Não poucas vezes desviei o dinheiro do leite de meu filho para pagar a prostitutas para que me saciassem um desejo que nunca consegui saciar. Foram muitas vezes e, com o tempo, comecei a chegar muito tarde em casa...  eu que não gostava de bebidas alcoólicas, passei a beber até me viciar. – os olhos húmidos denunciavam o sofrimento e a cada palavra nosso irmão embargava a voz, prosseguindo atordoado:  _Um dia vi minha esposa saindo de um carro com nosso filhinho, o menino estava febril e desfaleceu, Francisca em desespero recorreu ao nosso vizinho pedindo que os levasse ao hospital, mas eu nesse dia chegava da rua embreagado e não quis aceitar suas explicações de mulher honesta, fora de mim, enlouquecido de ciúmes, avancei para o vizinho dando-lhe sopapos... o resto o senhor pode avaliar por si só. Depois de um pausa longa olhou para o medianeiro atento e afetuoso, suspirou entristecido e sinceramente envergonhado, prosseguindo com o triste relato. _Minha mulher não suportando minha nova e escandalosa conduta, afastou-se indo parar na casa de seus pais, o que para mim foi tremenda afronta. Solitário e infeliz já não aguentando mais a distância, a saudade e muito envergonhado, fui pedir perdão e prometer-lhe mudança de hábito radical, promessa que não cumpri. Depois de um tempo passei a assistir pornografia em meu computador dentro do sacrossanto lar, saturando-me das energias mais baixas do sexo desregrado e cada vez mais desejoso de tocar em minha mulher como se ela fosse uma perdida! Certa madrugada perdi completamente o respeito por ela e o controle após despertar de um sonho lascivo, excitado e desejando-a  forcei-a a ter relação comigo. Transformei-me num monstro e confesso ao senhor que gostei no primeiro momento, pois senti-me dominador implacável e ela tinha que obedecer-me. Não percebendo mais a covardia e a hediondez do dos meus atos, passei a ameaça-la de morte caso não... o senhor sabe. – abaixou a cabeça e começou a chorar escondendo o rosto como se quisesse desaparecer dali. E reforçou: _Sinto-me um lixo, um ser execrável... o que farei agora? 
Atendente: _Meu irmão não se desespere, pois está na casa de Amor e recebe agora as bênçãos do Alto, pela bondade do Cristo! Acalme-se para sentir os benefícios que lhe ministram os bons espíritos... Sentir-se assim não lhe ajudará a resolver o problema e se aceitou a ajuda da vizinha, vindo a esta casa buscar lenitivo para sua dor, é porque quer abandonar esta desordem psíquica. Não é fácil eu sei, mas é preciso que o irmão aceite ouvir e faça com que os sentimentos inferiores não tenham mais força em sua vida. – Observando o consulente em sua aflição o médium mentalmente orava e pedia aos bons espíritos o devido auxílio para aquele caso, visualizava mentalmente Jesus de braços abertos, convidando toda a humanidade à Luz do esclarecimento e do Amor, que liberta-nos das peias do sofrimento.
Dilermando pediu novamente para falar, pois sentia que precisava relatar sua dor, expondo suas chagas para que melhor pudesse ser orientado. 
Dilermando: _Eu preciso de um psiquiatra? Será que perdi completamente o juízo? O senhor não faz ideia do quanto me arrependi, mas de repente, sinto como se alguém se me aproximasse e me dissesse o que fazer com energia e vigor! Subitamente um desejo cresce em mim e perco o pouco equilíbrio que tenho, parto em busca do sexo, sedento e cego... Francisca abandonou-me agora de vez, faz um ano que não vejo nosso filho. Arrasto-me nas noites após o trabalho para as casas de tolerância, molestando as mulheres infelizes que se comprazem na minha doença...o que farei? Sinto-me infeliz, desejo matar-me novamente, mas dessa vez quero lograr êxito! Só assim poderei desaparecer do mundo e esquecer o que me tornei. 
Atendente: _O irmão engana-se! O suicídio só lhe causará mais desgraças, porque nosso espírito vive, o que perece após a morte física é a carne que nos envolve, o corpo de que nos apropriamos nesta existência! Recue nesta insânia e busque em Jesus, o Divino Amigo, o medicamento para sua enfermidade. A vida, meu irmão é sublime oportunidade onde nos reajustamos e preparamo-nos para novos rumos, melhores e mais felizes. É certo que o amigo está enfermo e necessita grandemente de ajuda, mas é preciso que faça primeiro a sua parte, permitindo aos amigos do Plano Superior te auxiliarem e aos teus algozes desencarnados, já que o irmão encontra-se obsidiado. – Silenciou esperando que Dilermando lhe absorvesse os bons conselhos e compreendesse a gravidade de seu caso. – Convido-o a frequentar este templo umbandista para receber as energias renovadoras e absorber os estudos que lhe darão discernimento. Também o irmão se aceitar, poderá ser incluído nos tratamentos espirituais conforme orientação do plano Superior, de nossos irmãos mais velhos e do diretor espiritual desta casa. Mas é preciso que você, deseje fazer a reforma íntima, afastando-se dos vícios e prazeres mórbidos, buscando uma vida digna e de diretrizes elevadas. – Concluiu.
Dilermando aceitou emocionado e agradecido sentindo que Deus ouviu suas preces e lhe abria uma porta, no entanto em seu íntimo, sentia que seria muito difícil mudar suas atitudes de homem lascivo, seria como transpor gigantescos obstáculos, escalar montanhas, porém um forte e sublime energia lhe convidava a se ajustar moralmente, curando-se da loucura momentânea e caminhado para Jesus.



Muito axé!



Letícia Gonçalves

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