sábado, 14 de novembro de 2015

Os “causos” da Vovó Chica – Quem semeia vento colhe tempestade.


A noite estava quente mesmo havendo chovido à tarde. A força das águas não tendo a devida vazão alagaram as ruas, causando transtorno aos transeuntes, aos comerciantes e aos motoristas estressados e desejosos do retorno seguro ao lar.  Sentia-se a temperatura elevada em todos os lugares, mas naquela casa umbandista o clima era agradável, a energia elevada do ambiente  de caridade acalmava a todos os que ali estavam, convidando-os a buscar  o lenitivo para a alma em silêncio e em preces.
A casa estava cheia, os trabalhadores encarnados davam início aos atendimentos, os médiuns ativos preparavam-se para servir seus irmãos em visível  sofrimento e os protetores espirituais da casa posicionavam-se impedindo a entrada de espíritos blasfemadores e cruéis.

Dulcinda estava assentada na primeira fileira do salão principal ouvindo atentamente as afetuosas palavras do palestrante que referia-se respeitosamente ao Evangelho Segundo O Espiritismo – de Allan Kardec e os ensinamentos luminosos contidos nele.  Foi quando nossa personagem fora conduzida para uma cabine onde encontrava-se uma médium sob a inspiração de seu guia espiritual, a nossa querida Vovó Chica!
Dulcinda aparentava ter quarenta anos, aproximadamente, trajava-se elegantemente embora discreta, a pele bem tratada e as joias que lhe ornavam as delicadas mãos denunciavam que tratava-se de uma dama da alta sociedade. O olhar era vago e o semblante esforçava-se para não exteriorizar uma tristeza profunda que lhe vinha da alma.
Vovó Chica saudou-lhe cordialmente enquanto ministrava-lhe passes magnéticos e baforadas da fumaça de seu cachimbo para dissipar as densas energias impregnadas em seu campo áurico. Notava-se que no chacra básico da consulente aflita, havia uma coloração vermelho “sujo”, estava desvitalizada e os outros centros nervosos giravam lentamente e em sentido anti-horário. Após auscultação acurada a entidade humilde tomou-lhe as mãos com ternura e falou- lhe: _Que a paz de Jesus Cristo seja convosco, filha! 
Dulcinda: _Amém, vovó! – respondeu com um discreto sorriso nos lábios e prosseguiu:  _Vovó, preciso da vossa ajuda tenho passado por muito sofrimento nos últimos tempos. Meu casamento acabou e estou muito infeliz. – fez pausa revendo e organizando mentalmente os últimos acontecimentos desditosos e trágicos de sua vida. _Arrependi-me de ter agido mal com meu esposo e desperdiçado minha boa sorte, fui mulher infiel e atirei o meu nome na lama! Não foi só uma vez, mas muitas! Faustino expulsou-me de casa com a roupa do corpo, bloqueou meus cartões de crédito... só me restaram esses anéis que ele esqueceu-se de arrancar dos meus dedos! Estou morando de favor na casa de um dos meus amantes, mas creio que agora que perdi meu status, logo ele quererá ver-se livre de mim porque seu interesse por mim era puramente sexual.

As lágrimas lhe caíram pela face pesadas e explodiu em choro copioso, enquanto recebia carinho da entidade espiritual, que lhe soube esperar recompor-se para receber as devidas orientações. 
Vovó Chica: _Minha filha, quem semeia vento colhe tempestade! Você desviou-se do caminho reto e agora convive com as decepções próprias dos prazeres ilusórios. Abandonou uma vida venturosa ao lado do esposo para aventurar-se perigosamente nos braços do prazer inferior... – fez pausa rápida afim de que Dulcinda assimilasse a exortação e refletisse sobre os efeitos irreversíveis de seus atos. _Não perca as esperanças, dedique-se agora à reforma íntima  e à mudança de atitude perante a vida, aceitando no novo caminho os espinhos venenosos que lhe auxiliarão a retificar-se. 
Dulcinda: _Vovó Chica, só não entrei em total desespero porque após suplicar ajuda aos anjos do céu, num momento raro em minha vida porque nunca fui de orar, sonhei com minha mãe já falecida que me incentivava a mudar de vida e a não buscar pelo suicídio, o que segundo ela, pioraria mais ainda minha situação! O que vai ser da minha vida agora? Estou arruinada... o que farei? Não tenho mais dinheiro, não vivo no luxo e estou nas mãos de um estranho que me acolheu não por caridade, mas por interesse sexual, mas até quando? Não tenho parentes vivos, não sei o que fazer, pois nunca trabalhei na vida!
A personagem de nossa história compreendia duramente que atraíra todo aquele sofrimento para sua vida e que era a única responsável por sua derrocda e pelo sofrimento do esposo. Com certo constrangimento continuou a relatar a vida escandalosa a que se permitiu. _ Vovó, sempre traí meu marido, a partir do segundo ano do nosso casamento eu já estava entediada e não era feliz com ele... não sei porque, mas não sentia-me bem nos momentos de intintimidade na alcova e sempre me questionava sobre isso... apesar de termos a mesma idade Faustino, meu esposo, era muito reservado e quanto as relações sexuais ele era muito objetivo e pouco carinhoso, o que me frustrava. Como todo homem de negócios bem sucedido, ele viajava muito por todo país e pelo estrangeiro e chegava a ficar  mais de uma semana fora de casa. Sentindo-me profundamente só comecei a frequentar clubes noturnos e foi aí que conheci um grupo de pessoas “alegres”, extrovertidas e jovens, que como eu queriam ser livres para disfrutar dos prazeres da vida.  Como dinheiro nunca fora problema pra mim, gastava somas altíssimas numa única noite com bebidas, drogas e motéis! – a moça fez novamente pequena  pausa para organizar as ideias e tomar coragem para continuar o relato vergonhoso que a feria profundamente. _Aprendi a mentir e a dissimular minhas emoções, entreguei-me a vários homens em uma só noite... que vergonha agora sinto e que nojo tenho de mim mesma! Isto aconteceu durante alguns anos até que um dia Faustino adoeceu e precisou diminuir as viagens, passando um período de tempo restabelecendo as forças físicas em casa. Eu, no  início de seu tratamento, permanecia no lar, desistindo obviamente das saídas noturnas para que ele jamais desconfiasse, mas já viciada em cocaína que aprendi a consumir com amantes na noite, não conseguia mais disfarçar minha ansiedade e o desejo de me drogar! Não concatenava as ideias e perdi o controle da situação e as desculpas para me ausentar do lar escassearam-se, tendo em vista que meu marido passou a desconfiar de mim, estranhando meu comportamento... contratou um investigador nas minhas costas e em pouco tempo teve todas as provas de que precisava para por me na rua da amargura!

Novamente explodiu em choro, sendo acalentada pela preta velha que do alto de sua sabedoria e amor incondicionais, orientou nossa personagem a seguir por caminhos melhores. 
Vovó Chica: _Filha Dulcinda, aceita a oferta misericordiosa de Jesus, nosso Senhor e busca agora orientar-se pelos seus retos e verdadeiros ensinamentos. Perdoa a si mesma e recomeça a caminhada por outra estrada. Sintoniza-te com as esferas superiores através da prece reconfortante, aceita O Mestre Nazareno em seu coração e tudo se cobrirá de cor suave, até suas dores poderão ser suportadas. - A veneranda entidade, vibrando em seu médium energias salutares e de alto teor vibratório, de posse de sua mente e de seus centros nervosos continuou. – Minha irmã, afasta-te do caminho da ilusão e renova-te com amor, aceita o fato de que esteve entorpecida para as ilusões da carne e agora faça a reforma necessária. Um psicólogo da Terra te poderá dar os primeiros auxílios e se mergulhar no universo do trabalho caritativo, irá afastar de si os pensamentos ociosos e os espíritos desencarnados igualmente enfermos, que te acompanham. Aceita a oportunidade que Jesus, o iluminado pastor oferta-te e entregua-te a Ele.
A jovem senhora saiu daquela abençoada casa de Umbanda sentindo-se fortalecida e disposta a enfrentar sua dura realidade.
Desejava intimamente ver-se liberta de todo aquele sofrimento e prometera a si mesma que frequentaria aquele templo de amor e se sujeitaria obediente e humilde a Jesus Cristo, até limpar as nódoas de seu espírito sofrido.



Muito axé!



Letícia Gonçalves














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