O
nascimento de Jesus aconteceu sem quaisquer anomalias ou milagres de natureza
ostensiva, tudo ocorrendo num ambiente de pobreza franciscana, assim como era o
lar de Sara, velha tia de Maria, para o qual José levara a esposa a fim de ser
assistida e protegida na hora da délivrance. Conforme já dissemos, Maria era
uma jovem delicada, envolta por estranhas ansiedades e exaurindo-se facilmente
durante o período gestativo; e isto requeria cuidados e atenções por parte do
seu esposo.
A
casa onde se haviam hospedado era paupérrima e dividida em dois aposentos; num
deles amontoavam-se os móveis e os objetos de uso da família; no outro, além de
servir de depósito, misturavam-se cabras, aves e carneiros.
Das vigas pendiam
ganchos com cereais, arreios, peles de animais e o peixe secava à altura do
forro, onde a luz do sol penetrava por um retângulo. Sara e Elcana, tios de
Maria, durante a noite estendiam um cobertor sobre a esteira e
ali dormiam tranqüilamente, sob o clima saudável e seco, pois nada
lhes pesava na consciência de criaturas simples e honestas.
No
momento da délivrance, Maria teve que ser acomodada às pressas, num recanto do
aposento, sobre o leito improvisado com a esteira, cobertores e peles de cabra;
e deste acontecimento a fantasia humana pintou a cena da mangedoura. Em
verdade, Jesus nasceu num ambiente de pobreza e próximo dos animais que
pertenciam aos seus parentes de Belém, cujo lar cederam prontamente para o seu
nascimento, indo dormir as primeiras noites na casa vizinha. Porém, jamais José
e Maria dirigiram-se a Jerusalém, para atender ao hipotético recenseamento, que
não ocorreu naquela época, mas transladavam-se, deliberadamente, para Belém, em
busca de auxílio para o acontecimento tão delicado.
O
acontecimento, em verdade, foi de suma importância e bastante jubiloso para os
familiares de
Maria,
quando verificaram que o seu primeiro filho era um querubim descido dos céus.
Nisso, realmente, o fato fora excepcional, pois em Belém ou Nazaré ninguém se
lembrava de ter nascido criança tão formosa, cuja fisionomia se mostrava
envolta por estranhos fulgores. Sob o espanto de todos, o menino Jesus não
apresentava as rugas características dos recém-nascidos, mas as faces rosadas,
o semblante sereno e a quietude dos lábios traçados a buril, compunham a plástica
de encantadora boneca viva, na qual, às vezes, transparecia um ar de gravidade
ou divino poder!
Ramatís – “O Sublime Peregrino”
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