A transição dos
espíritos ou o mistério da morte. Quando o homem adormece em seu último sono,
cai primeiramente numa
espécie de sonho, antes de acordar do outro lado da vida. Cada um vê então, numa
bonita fantasia ou num terrível pesadelo, o paraíso ou o inferno nos quais
acreditou durante sua existência mortal.
É por esse motivo que muitas vezes a alma atemorizada se lança violentamente na vida que ela acaba de deixar e que mortos, bem mortos quando os sepultamos, acordam vivos sob o túmulo. A alma então, não mais ousando morrer, consome-se em esforços inúteis para conservar a vida leguminosa, por assim dizer, de seu cadáver. Ela aspira durante seu sono o vigor fluídico dos vivos e o transmite ao corpo enterrado cujos cabelos crescem como uma erva daninha e cujo sangue vermelho colore os lábios. Esses mortos tornam-se vampiros; vivem conservados por uma doença póstuma que tem sua crise, como as outras, e que termina por convulsões horríveis durante as quais o vampiro, procurando destruir a si próprio, devora os braços e as mãos. As pessoas sujeitas a pesadelos podem fazer uma idéia do horror das visões infernais. Essas visões são o castigo de uma crença atroz e perseguem sobretudo as crenças supersticiosas e os ascetas fanáticos: a imaginação está povoada de atormentadores, e esses monstros, no delírio que se segue à morte, aparecem à alma com uma espantosa realidade, cercando-a, atacando-a e dilacerando-a procurando devorá-la. O sábio, ao contrário, é acolhido por visões felizes, acredita ver seus amigos de outrora virem a seu encontro e lhe sorrirem. Mas tudo isso, dissemos, é apenas um sonho, e a alma não tarda a acordar. Então ela mudou de meio, está acima da atmosfera que se solidificou sob os pés de seu envoltório, agora mais leve. Este envoltório é mais ou menos pesado; há os que não conseguem se erguer de seu novo solo; há outros que, ao contrário, sobem e pairam livremente no espaço, como águias. Mas os liames de simpatia os ligam sempre à terra na qual viveram e sobre a qual se sentem viver mais do que nunca, porque estando destruído o corpo que os separava, têm consciência da vida universal e participam das alegrias e dos sofrimentos de todos os homens. Eles vêem Deus como ele é, isto é, presente em toda parte na precisão infinita das leis da Natureza, na justiça que triunfa sempre através de tudo o que acontece, e na caridade infinita que é a comunhão dos eleitos. Eles sofrem, dissemos, mas têm esperança porque amam e estão felizes por sofrer. Eles saboreiam pacificamente a doce amargura do sacrifício e são os membros gloriosos, mas que sangram sempre, da grande vítima eterna. Os espíritos criados à imagem e semelhança de Deus são criaturas como ele, mas, como ele, só podem criar suas imagens. As vontades audaciosas e desregradas produzem larvas e fantasmas, a imaginação tem o poder de formar coagulações aéreas e eletromagnéticas que refletem num instante os pensamentos e sobretudo os erros do homem ou do círculo dos homens que os coloca no mundo.
É por esse motivo que muitas vezes a alma atemorizada se lança violentamente na vida que ela acaba de deixar e que mortos, bem mortos quando os sepultamos, acordam vivos sob o túmulo. A alma então, não mais ousando morrer, consome-se em esforços inúteis para conservar a vida leguminosa, por assim dizer, de seu cadáver. Ela aspira durante seu sono o vigor fluídico dos vivos e o transmite ao corpo enterrado cujos cabelos crescem como uma erva daninha e cujo sangue vermelho colore os lábios. Esses mortos tornam-se vampiros; vivem conservados por uma doença póstuma que tem sua crise, como as outras, e que termina por convulsões horríveis durante as quais o vampiro, procurando destruir a si próprio, devora os braços e as mãos. As pessoas sujeitas a pesadelos podem fazer uma idéia do horror das visões infernais. Essas visões são o castigo de uma crença atroz e perseguem sobretudo as crenças supersticiosas e os ascetas fanáticos: a imaginação está povoada de atormentadores, e esses monstros, no delírio que se segue à morte, aparecem à alma com uma espantosa realidade, cercando-a, atacando-a e dilacerando-a procurando devorá-la. O sábio, ao contrário, é acolhido por visões felizes, acredita ver seus amigos de outrora virem a seu encontro e lhe sorrirem. Mas tudo isso, dissemos, é apenas um sonho, e a alma não tarda a acordar. Então ela mudou de meio, está acima da atmosfera que se solidificou sob os pés de seu envoltório, agora mais leve. Este envoltório é mais ou menos pesado; há os que não conseguem se erguer de seu novo solo; há outros que, ao contrário, sobem e pairam livremente no espaço, como águias. Mas os liames de simpatia os ligam sempre à terra na qual viveram e sobre a qual se sentem viver mais do que nunca, porque estando destruído o corpo que os separava, têm consciência da vida universal e participam das alegrias e dos sofrimentos de todos os homens. Eles vêem Deus como ele é, isto é, presente em toda parte na precisão infinita das leis da Natureza, na justiça que triunfa sempre através de tudo o que acontece, e na caridade infinita que é a comunhão dos eleitos. Eles sofrem, dissemos, mas têm esperança porque amam e estão felizes por sofrer. Eles saboreiam pacificamente a doce amargura do sacrifício e são os membros gloriosos, mas que sangram sempre, da grande vítima eterna. Os espíritos criados à imagem e semelhança de Deus são criaturas como ele, mas, como ele, só podem criar suas imagens. As vontades audaciosas e desregradas produzem larvas e fantasmas, a imaginação tem o poder de formar coagulações aéreas e eletromagnéticas que refletem num instante os pensamentos e sobretudo os erros do homem ou do círculo dos homens que os coloca no mundo.
Essas criações de
abortos excêntricos esgotam a razão e a vida daqueles que os fazem nascer, e
têm por característica geral a estupidez e o malefício, porque são os tristes
frutos da vontade desregrada.
Aqueles que não
cultivaram sua inteligência durante sua existência ficam, após a morte, num
estado de torpor e de estupor cheio de angústias e de inquietude; têm dificuldade
em retomar a consciência de si mesmos, estão no vazio e na noite, não podem nem
subir, nem descer, e são incapazes de se corresponder seja com o céu, seja com
a terra. São tirados pouco a pouco desse estado pelos eleitos que os instruem,
os consolam e os esclarecem; depois conseguem ser admitidos para novas provações
cuja natureza nos é desconhecida, porque é impossível que o mesmo homem renasça
duas vezes na mesma terra. Uma folha de árvore, depois que cai, não se liga
mais ao galho. A lagarta torna-se borboleta, mas a borboleta nunca uma lagarta.
A natureza fecha as portas atrás de tudo o que passa e impele a vida para adiante.
O mesmo pedaço de pão não poderia ser comido e digerido duas vezes. As formas
passam, o pensamento fica e não mais retorna o que se usou uma vez.
Eliphas Levi - “A Ciência Dos Espíritos”
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