O perdão é um fato,
sem que a discussão se apodere do assunto, pois se fundamenta no amor e é
sustentado pela caridade, sem ultrajar a lei da justiça. As susceptibilidades
inflamadas perguntam: por que o perdão? Não é justo que defendamos nossa moral,
nossos interesses, como fazemos com nosso próprio corpo? A displicência foge à
regra. Não negamos que sejamos defendidos, e que a razão se ocupe com a
vigilância e forme métodos de defesa, que haveremos de usar. Esta é a nossa
posição diante do ofensor.
Se usarmos o revide
para com aqueles que nos atacam, entramos na mesma sintonia da agressão e
respiramos o mesmo magnetismo toldado pelo ódio e pela vingança. Perdoar as
ofensas e isolar-se dos fluídos inferiores projetados em nós, sem dúvida, é ter
serenidade na consciência, pela confiança adquirida através das qualidades
conquistadas; é ter certeza, na lei universal, de que somente recebemos o que
damos.
O perdão anunciado
pelo verbo, sem que o coração participe, não deixa de ser o prenúncio da
desculpa. Porém, o mundo interior não sente os efeitos desejados no enervante
estado psíquico, pela apropriação da maldade na alma. A limpeza interna só é
feita com recursos íntimos, que a verdade fornece, e carece de muito exercício
para que o hábito se solidifique.
A glândula que
controla as emoções, serenando ou agitando o sangue, inflama-se com
determinados pensamentos, vicia-se, e começa automaticamente a perturbar o
organismo, ou a colocá-lo na mais elevada serenidade. Se alimentamos ideias de
ódio e de vingança, elas, primeiramente, com vibrações sutilíssimas, vasculham
todo o nosso cosmo celular, queimando a força vital, desnutrindo-nos e, ao
passar pelos centros energéticos, desencadeiam um mundo de distúrbios, de modo
a fazer a alma sofrer as consequências daquilo que provocou.
Eis porque tornamos a
falar em "por que o perdão". Quem pratica a indulgência é o primeiro
a ser beneficiado. O misericordioso é invadido pela paz. Os espíritos superiores
têm uma serenidade imperturbável, fruto de um perdão incondicional e permanente.
Assim como a luz de uma lâmpada, para atingir o exterior, tem primeiro de
passar pelo material transparente que lhe garanta ambiente refletor, a luz do
espírito, a força mental dos pensamentos, antes de ganhar o mundo exterior, é
filtrada por vários corpos que lhe garantem, igualmente, o ambiente para viver
e progredir. E se nós plasmamos o bem, nessa força ideoplástica, pelo perdão,
pela caridade e pelo amor, somos agraciados em primeira mão. Se invertermos
essas correntes de luz pelo envenenamento dos nossos sentimentos, a escória
mais grossa ficará no fundo da bateia da carne, como alimento indigesto.
Quem perdoa e fala
demais desse gesto natural, buscando elogios, está movido, talvez sem o saber,
pela onda ilusória da vaidade. Como o perdão é dificil...
Também achamos. Não
obstante, quem aprendeu a perdoar jamais se esquecerá, por sentir os efeitos de
felicidade que advêm desse ato.
Do livro: “Horizontes da Mente”
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