segunda-feira, 23 de março de 2020

OS CONFLITOS FAMILIARES À LUZ DO ESPIRITISMO – COMO NOS RELACIONAR COM PARENTES DIFÍCEIS?



Como nos relacionar com parentes difíceis, mal educados, ríspidos e que gostam de humilhar os outros?

O Espiritismo explica as antipatias familiares que geram conflitos dolorosos entre os entes consanguíneos e nos aponta também caminhos para a libertação das culpas, através do Evangelho de Jesus.
Reencarnamos em lares que podem nos ser  simpáticos ou não. Isso normalmente depende muito das ligações de vidas anteriores, e o desdobramento de cada caso. Cada existência e oportunidade de liquidarmos débitos antigos, se dará diante da sagrada permissão da reencarnação num novo cenário familiar, em um novo corpo físico.
Em noventa por cento dos casos há desentendimentos médios e graves entre pessoas de um mesmo agrupamento familiar, o caso “pais e filhos” é o mais comum e quase sempre o mais difícil. Segundo nos consta, podem levar longos séculos para que espíritos possam se perdoar e esquecer de traumas de um passado remoto que têm ressonância com o tempo presente.

Falemos francamente e sem julgamentos negativos, analisemos nossos casos pessoais uma a um, dentro de uma linha de raciocínio honesta e direcionada à descoberta de nós mesmos e vejamos: Nesse planeta habitam quase a totalidade de espíritos imperfeitos ainda em caminho de vencer as debilidades. Só o entrechoque familiar pode nos proporcionar experiências que no futuro, nos darão condições de discernir melhor, julgar com justiça, evoluir moralmente e buscar novos rumos para a nossa própria evolução espiritual.
A maior dificuldade que encontramos em nossos lares é a de lidar com um ente orgulhoso e prepotente, principalmente se for hierarquicamente superior a nós. Reencontramo-nos na carne com antigos inimigos de outrora, comparsas inescrupulosos, cúmplices que foram arregimentados no caminho do erro, criaturas que assassinamos por tolo ciúme, ódio ou pela cega e desmedida ambição tomar o lugar de destaque e de poder no mundo das formas.
Aquele que hoje está como pai pode ter sido o filho noutra época, a mãe de agora pode ter sido a irmã de outrora ou a amante, a filha, a esposa em vidas anteriores. Gastamos muitas encarnações para aos poucos e sempre, irmos nos aproximando emocionalmente cada vez mais uns dos outros, até que consigamos enfim nos amar. Mas não é assim tão simples, o Espiritismo elucida-nos que esta aproximação é complexa, requer paciência, pois os ódios ainda estão vivos em nossa memória espiritual. Nesse ínterim desenvolvemos a capacidade de sentir o que emana dos outros para nós, conseguindo identificar “ali”, por exemplo, um inimigo tenaz de uma existência passada mesmo sem reconhece-lo de fato. E através das discussões, da violência doméstica, das traições, das humilhações e implicâncias, podemos  perceber no outro a característica que nos causa perturbação e incômodo e automaticamente nos remete às ressonâncias de sentimentos represados pelo espírito há séculos, trazendo ao novo convívio familiar “novas”    antipatias, raivas e ódios inexplicáveis que só o passado pode elucidar. E esses  relacionamentos sem perdão e sem harmonia podem dar início a mais fortes conflitos dolorosos dentro do lar com  a nossa  atual mãe, pai, irmão, avô, tio, primo, irmã, esposo ou esposa. Infelizmente alguns desses aspectos ou características de personalidade podem desagradar-nos sobremaneira, criando  por vezes o afastamento.
Aquele parente orgulhoso e prepotente que humilha, manipula, ofende e fere, possivelmente foi o algoz do passado ou até mesmo nossa vítima cheia de mágoa e revolta, que hoje sente-se ameaçado pela possível rejeição ou pelo simples medo de não ser respeitado, amado ou ouvido.
Mas como podemos conviver de uma forma equilibrada posto que em muitos casos o afastamento é impossível, por motivos cármicos, financeiros ou psicológicos? Muitos parentes não conseguem perdoar mesmo compreendendo a importância desse nobre ato. Isso é perfeitamente compreensível, já que conseguimos entender como dito alhures, a complexidade e a demora para que cada parte afetada consiga abrir mão da disputa perniciosa, da cobrança ou até mesmo do desejo quase irresistível de vingar-se.
Esse singelo texto deseja fornecer material para analisarmos particularmente cada caso e, com simplicidade, tirarmos nossas conclusões buscando o melhor caminho para uma saudável reflexão.
Se somos espíritas e sabemos que o perdão é uma porta para a nossa libertação e equilíbrio espiritual, por que não conseguimos perdoar tão fácil assim? É simples, porque o ego nos atrapalha.
Aquela pessoa difícil do nosso convívio familiar pode até ter certa autoridade dentro do lar e sobre nós, pode nos parecer poderosa, responsável, firme, competente, forte, capaz, dona de si, “dona” do dinheiro e até sentir-se melhor que os outros. Nós até podemos crer que ela seja assim por se destacar dos outros, mas devemos entender que existe uma camada superficial que “cobre”, disfarça os males daquele indivíduo que quer parecer ser o que não é.
Arrogância é um mecanismo de autodefesa. Quem gosta de humilhar, na verdade está se escondendo por trás de um pseudo poder para ocultar o sentimento de pouco valor que dá a si mesmo.
Os entes difíceis muitas vezes nos dão desculpas pelas atitudes desagradáveis que têm, dizem uns que foram educados num regime disciplinar rígido, outros afirmam que sofreram traumas no período da infância pelo abuso de autoridade  e violência dos pais.  Cada um dará em algum momento uma explicação para tentar explicar o jeito de ser, mas a grande maioria das pessoas
duras de coração, querem é ocultar o medo de que descubramos que eles na verdade se sentem um nada!
O orgulhoso e prepotente, por dentro é criatura frágil, insegura e por vezes covarde que aprendeu de forma distorcida a ferir primeiro, quando percebe que pode vir a ser rejeitado por algum motivo. Usa de sua influência exercida pela autoridade que tem dentro do lar, como pai ou mãe para subjugar o outro que dele precisa. Esse desajuste emocional denota um sentimento de inferioridade. Por isso, em muitos casos ele precisa elevar-se dessa forma sobre o outro para sentir-se melhor.
O que podemos fazer para evitar enfrentamentos que só pioram nossa condição espiritual?
Uma das possibilidades seria a de conquistar a independência financeira e sair do contato tão próximo para arrefecer os ânimos. Mas há os  que por questões cármicas ainda não conseguiram sua “carta de alforria”, então, é  necessário olhar para esse ente e ver  a pessoa que enfermou moralmente e precisa do nosso perdão. É preciso olhar para o outro como ele realmente é, frágil, medroso, fraco e descontrolado, mas que disfarça vivendo um personagem  irreal. Olhemos para os parentes difíceis como olhamos para as crianças malcriadas e indisciplinadas, vendo nelas traços característicos da imaturidade. Assim também somos nós enquanto espíritos inferiores no caminho do aprendizado dessa escola terrena. Sem ofensas e julgamentos, busquemos em nós mesmos esse algoz como forma de reformarmo-nos intimamente e o disciplinemos com a aplicação do estudo do Evangelho do Mestre Jesus, a cada dia.
Curemos a nós mesmos e deixemos o outro, caso seja o seu desejo, à sua própria incúria e jamais olvidemos as Leis do Pai Maior e o tempo que é mestre e amigo que a tudo cura.

Namastê!

Letícia Gonçalves

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