Fred,
depois de ter gastado cerca de vinte e seis mil reais com a reforma de um porão
que foi transformado em esconderijo subterrâneo, ao termina-lo, no mês de
dezembro preparou-se para o dia 21/12/2012, mas ficou frustrado.
Em
Janeiro de 2012, vendeu o carro com emplacamento do ano e a moto do filho mais
velho. Pediu demissão do trabalho, pois precisava dedicar-se nos últimos meses exclusivamente
aos preparativos para o fim do mundo.
Pintou
o porão, equipou-o com televisão, computador, uma mini farmácia, estocou
alimentos para três meses e comprou roupas especiais para o caso de frio intenso
(nevasca)...
Estressou
a mulher ao ponto dela entrar em depressão. Para falar a verdade ele “colocou
pilha” mesmo, com força! A pobrezinha acabou concordando com as loucuras dele
para não ficar mal com o marido... E os filhos? Três! Dois em fase adolescente
e um já adulto, nossa! Que mico! A gurizada não tinha outra alternativa a não
ser divertirem-se muito com tudo aquilo (com as trapalhadas do pai), mas as
escondidas,
pois Fred ficava irritado com piadinhas.
No
dia vinte de dezembro de 2012, às quatro da madrugada, o moço acordou e obrigou
os familiares a descerem para o compartimento (ex- porão) para esperar o mundo
acabar. Não deixou que nenhum deles reclamasse ou o desobedecesse, até o filho
mais velho (maior de vinte e um anos) foi obrigado a descer, filho é filho!
Cabelos
desarrumados, olhos esbugalhados, pijamas amarrotados, cobertores nos ombros,
pés descalços e reclamações entre a família de Frederico, mas todos desceram.
Para
piorar a situação do incauto, na cidade onde morava o tempo fechou, estava
muito quente e no fim da tarde uma tempestade de verão tomou conta de tudo, de
uma janela basculante que ficava no alto da parede, ele observava a tudo, de-ses-pe-ra-do!
A coisa foi tão feia que até os familiares por um minutinho
apenas, chegaram a cogitar a possibilidade de, naquele momento, o mundo estar
se acabando (influenciados). Mas não disseram que se acabaria em fogo?
Perguntava o filho do meio, do casal.
Raios
e trovões faziam sua participação especial, assombrando mais ainda aquele
homem. De repente, da janela basculante começou a escorrer filetes de água,
para quê? Fred ficou alucinado, gritava para a esposa enquanto segurava a
cabeça com as mãos: “é o fim de tudo mulher, salve-se quem puder!!! Meu Deus!!!
O
filho mais velho já não aguentando mais o desespero do pai, pegou uma escada e
subiu para ver através da janelinha que ficava no alto da parede, constatando
que o volume de água no pátio da casa era grande. Aquele porão como muitos
outros fora construído no subsolo da residência, uma janela foi colocada para
levar ar ao mesmo, porém do lado de fora ficava colada ao chão, por isso a água
entrava.
Mas
para Fred a coisa era outra, tratava-se do dilúvio somente! Ficou tão nervoso
que desmaiou!
Quando
voltou a si viu que estava sozinho, olhava para os lados e não via mais os
familiares (dormiu por mais de dez horas) visualizou só as pilhas de alimentos
estocados, empilhados junto a uma da paredes, as cobertas e colchões, a água acondicionada
em galões, etc. Mas a família mesmo não estava lá.
Olhou
no relógio e já passavam das dez da manhã do dia 22/12/2012. Viu a escada e foi
até ela, constatou ao olhar pela janela que a tempestade havia passado e havia
então uma luminosidade fantástica indicando que o dia estava ensolarado.
Sem
graça e confuso ele também saiu do ressinto, não havia mais o que fazer ali,
ainda mais sem os filhos e a esposa. Ao subir ouviu risos e constatou que eles
estavam se divertindo enquanto assistiam a um programa de televisão, esperavam
a mãe terminar uma deliciosa panqueca para o dejejum matinal. Ao vê-lo todos
silenciaram-se, até o poodle “Joy joy” ficou a observa-lo, esperando talvez, um
pedido de desculpas...
A
esposa dirigiu-lhe um olhar compreensivo, mas não deixou de acrescentar: “Bom
dia Frederico! Não adianta agora nos cobrar absolutamente nada. Se sua fé fosse
do tamanho de um grão de mostarda, nada disso teria acontecido”.
Ao
perceber que os filhos estavam controlando-se para não caírem na gargalhada, ele
disfarçou, coçando a cabeça e disse muito sem graça: “Ué...
Cadê o fim do mundo? Não teve?”
Autoria: Marcos Marchiori/Letícia Gonçalves
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