Amanda é uma moça “normal”, considerada ainda jovem
pela maioria, gosta de fazer passeios ao ar livre, é elegante, tem bom gosto e
apesar de ter uma forte inclinação para a música clássica, aprecia outros
tipos de música desde que elas lhe causem alguma emoção.
É reencarnacionista e adepta do espiritismo, mas até
hoje não “se encontrou”, frequenta as casas espiritualistas, mas prefere não se
comprometer - assim dá menos trabalho, pensa ela.
Na verdade ela é muito boa em observar pessoas e
identificar nelas defeitos. Discretamente vai desvendando a personalidade dos
outros, identificando falhas aqui e ali, faz espécie de análise sobre as
pessoas... Descobriu-se ótima nisso!
Depois de ter lido muitos livros espíritas, entre
eles os romances, buscou novos rumos conhecendo e se apaixonando pela umbanda.
É aquela atmosfera lúdica que os templos passam para os leigos e
desinteressados, mas que de lúdico não tem nada!
Chegava em casa sempre contando uma novidade sobre a
tal casa que frequentava, sempre fazendo observações sobre as falhas do
palestrante ou de algum trabalhador humilde da casa. Enquanto contava o que
havia presenciado no templo, servia o café da manhã. Havia feito um doce novo
desses de compota... Ficou esperando os familiares dizerem algo... se havia
ficado gostoso, doce demais ou amargo, mas ninguém falou nada nem ao menos um
“elogiozinho” bobo, desses que a gente escuta e fica satisfeito...
Todos levantaram da mesa e despediram-se dela com um
tchau seco e um sorriso dissimulado. Quando isso acontecia Amandinha ficava
para morrer, mas fingia estar tudo bem.
Naquele domingo havia algo de especial no ar, talvez
porque era o aniversário de um dos familiares. Ela capricharia no almoço!
Resolveu fazer um daqueles pratos que só ela conseguia, como é talentosa na
cozinha, essa menina!
Expulsou todos da mesma e lá reuniu todas as suas
energias para fazer o melhor prato e oferecer o mais rico almoço de domingo
para o aniversariante.
Tudo pronto, ela se retirou rapidamente para a devida
toalete e quando estava toda a família reunida para a ceia, lá estava Amandinha
de volta, alegremente vestida, discretamente perfumada e muito ansiosa.
Ninguém, absolutamente ninguém falou nada sobre o
cardápio, todos falavam sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada, felicitavam o
aniversariante, davam risadas, comiam, bebiam, brindavam, mas nenhum elogio
direcionado a belíssima refeição preparada por Amanda. Ela os observava em
silêncio, fuzilando cada um com os olhos esbugalhados e silenciosos enquanto
mastigava os manjar dos deuses que preparara com tanto amor para todos.
Risos, abraços e todos foram para a varanda degustar
enfim, a sobremesa finamente preparada para a ocasião, uma receita dificílima
que estava na família há mais de cem anos e só ela conseguia faze-la com
sucesso. Mas nenhum dos parentes lembrou-se de elogiar as mãos de fada que
Amandinha tinha para o preparo dos doces. Comiam rezando, mas de forma alguma ouvira um “muito
obrigada” ou “que delícia!” ou até mesmo “Amanda, minha querida, como sempre
você arrasou!”...
Ela se retirou dali extremamente ofendida, de passos
firmes e pesados levava seu corpo rechonchudo para outro canto da casa, bem
longe de todos. Assim, poderia praguejar à vontade! _Gente ingrata e mal
educada, comeram feito bichos e nem sequer são capazes de reconhecer que sou talentosa,
não me agradeceram pelo almoço maravilhoso que preparei, aliás nunca fazem isso
– pensava ela irritadíssima.
No domingo seguinte os irmãos se reuniram mais uma
vez para uma conversa descontraída, convidaram alguns amigos para um delicioso
café da tarde. Aos poucos o varandão daquela charmosa casa foi ficando cheio
de pessoas que conversavam animadamente entre si.
As moças da casa naturalmente enfeitaram-se para
receber os convidados, queriam causar boa impressão. Trajavam-se elegantemente,
porém de forma simples, eram os vestidos longos e floridos, confeccionados em
tecidos finos e alegres imitando a moda européia de algumas décadas passadas,
estava na moda!
Os rapazes usavam roupas leves, pois era verão,
bermudas em tons discretos e camisas com estampas interessantes e charmosas. E nossa
querida Amandinha aparece também muito
elegante, perfumada e envolvida num
vestido amarelo claro de um tecido fino e delicado, os pés rechonchudos estavam
calçados com sandálias douradas que os adornavam, mas ninguém notou sua beleza
a ponto de fazer-lhe um elogio e ela ficou esperando que os amigos lhe
elogiassem ou até mesmo um dos irmãos, mas todos a olharam com carinho, porém
nada de ESPECIAL lhe foi dito, falavam sobre qualquer assunto, menos sobre
ela... Isto mais uma vez trouxe azedume para seu coraçãozinho adulto, mas
envolvido pela psique infantil. O sorriso que de início enfeitava-lhe a face
deixando-a mais bela e iluminada desfez-se
imediatamente e um mau humor invadiu-lhe a alma. De súbito passou a dar más respostas
em todos, tornando-se uma presença desagradável.
Na semana seguinte, em seu local de trabalho,
conseguiu terminar um projeto importante para a empresa e entrega-lo no prazo
estipulado. Do chefe só recebeu um sorriso sincero, um singelo, mas importante
“parabéns Amanda” e um aperto de mãos. O que para ela foi o fim da picada, pois
esperava que seu chefe a elogiasse mais na frente de todos o outros membros que
participavam da reunião.
O chefe não se empolgou demais nem falou nada de
extraordinário para Amanda, não a promoveu apenas lhe sorriu e deu-lhe os
parabéns.
Nossa personagem segurou-se firme e não demonstrou
sua frustração, disfarçou-a com um pálido sorriso para todos os
presentes e conteve-se. Mas intimamente desejava que o chefe ao sair do
trabalho, no fim do expediente
destruísse um poste com seu carro!
Assim Amandinha seguia pela vida afora extremamente
frustrada, sentindo-se injustiçada pelas pessoas, dizia ela para consigo mesma
que não lhe davam o devido valor, por isso ela não era feliz.
Precisava de mais estímulos, de muitos aplausos, queria
que as pessoas lhe dessem mais atenção. Para
ela os simples elogios, daqueles mais sinceros e verdadeiros não lhe
serviam, queria que todos ficassem sabendo que era especial para tudo o que
fizesse precisava de um agradinho ou melhor, de um agradecimento, pois queria
ser reconhecida por todos, afinal de contas ela era especial.
Sentia raiva dos irmãos, dos amigos e dos estranhos
porque não lhe notavam, mantinha “disfarçadamente” a postura de uma “mulher
normal” por fora e por dentro a de uma criatura vaidosa e orgulhosa que
sofria de males terríveis.
Amandinha pode estar dentro de cada um de nós,
disfarçada e muito bem armada para resistir e permanecer, são os vícios do ego
ou se preferirem os “eus” periféricos.
A questão é, será que não devemos investigar se não há
em nós “Amandinhas” como a personagem desta história?
Sem dúvida podemos considerar a preguiça mental
como “uma cama macia”, mas que nos mantém iludidos e adormecidos para as
realidades que nos cercam.
O
Evangelho de Jesus contém as soluções e a chave para nossa libertação, é bom
tê-lo como livro de cabeceira para sempre!
Muito
axé!
Letícia
Gonçalves
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