sábado, 16 de novembro de 2013

Era uma vez...

  

Era uma vez... um centro espiritualista  onde eram atendidas centenas de pessoas todo mês. Realizavam-se ali inúmeros tipos de trabalhos de caridade , inclusive aqueles que confrontavam os problemas atuais dos consulentes com os entrelaçamentos reencarnatórios,  que funcionavam em mais de um grupo.
Um destes grupos era diferenciado pela abordagem um tanto esotérica dada por conta de seu dirigente, sabidamente muito estudioso do assunto e pesquisador ferrenho. Porém a medida que o grupo foi se consolidando começou a haver uma urgência cada vez maior do dirigente em encerrar o quanto antes os atendimentos do dia para possibilitar outros experimentos "intuídos" por ele, chegando mesmo a haver negativa em atender pessoas  provenientes de longe, apesar do descontentamento dos outros trabalhadores. Um trabalho que havia iniciado com o atendimento fraterno de inúmeros consulentes para resolver repercussões de vidas passadas na encarnação atual evoluiu para incursões "holywoodianas" para desmantelar bases umbralinas e capturar magos negros atlantes, culminando com triangulações energéticas com  planetas de constelações longínquas, berço dos primeiros habitantes voluntários ou degredados de nosso orbe, a fim de irradiar o Cosmos. Acreditava-se o dirigente capaz inclusive de utilizar energias manipuladas pelas civilizações primordiais e mais evoluídas de nossa história, e que em grande parte contribuíram para a derrocada das mesmas.
E cada vez menos atendimentos presenciais para as filas de espera de consulentes necessitados...Obviamente começou a haver um esvaziamento do grupo  pela discordância dos trabalhadores em relação a tal postura, mas o dirigente seguiu firme em seus propósitos e convicções, atribuindo a falta de capacidade dos outros o abandono do trabalho. Quando finalmente houve a necessidade de garimpar trabalhadores em outros grupos para manter o seu funcionando, eis que, surpreso, constatou que ninguém foi candidato a trabalhar com ele mesmo sendo uma sumidade em tais conhecimentos. Ainda assim atribuiu o fato a inveja de sua sapiência e resolveu seguir sozinho nas suas atividades, alegando estar constantemente sob irradiação dos mestres ascensionados e de irmãos de luz altamente evoluídos , habitantes de outros planos e galáxias que o teriam eleito para  servir de instrumento para auxiliar a entrada da Terra na Nova Era. E desta forma adoeceu e desencarnou rapidamente por ter a certeza de não necessitar de tratamentos terrenos uma vez que contava com a mais ampla cobertura espiritual tal a importância de seu trabalho aos olhos do Mais Alto. Desencarnou com a convicção de que atendimentos presenciais caritativos para a enorme população necessitada era um trabalho banal e que poderia ser feito pelas dezenas de médiuns medíocres que formavam a corrente de seu centro, mas o trabalho ao qual ele se dedicava necessitava obrigatoriamente de um médium de seu quilate.
Esta estória apesar de fictícia poderia certamente encontrar similaridade com histórias reais e que poderiam estar ocorrendo neste momento com qualquer consciência que tenha se perdido na sombra do próprio ego.
Será que o nosso planeta  não tem espíritos encarnados e desencarnados suficientemente comprometidos e necessitando de todo auxílio possível para que nos preocupemos com a situação do cosmos? Não terá a espiritualidade superior espíritos mais gabaritados para se encarregarem destes assuntos do que nós que ainda estamos no jardim de infância da evolução espiritual? Quantos trabalhadores muito comprometidos carmicamente com o trabalho da caridade não perdem o foco em virtude da vaidade, seja em função do estudo e conhecimentos adquiridos, seja por superficialização da memória espiritual que traz a tona antigas personalidades egocêntricas e pouco caridosas ou mesmo pelo reconhecimento público quanto ao trabalho realizado?
Quando a consciência individual se torna mais importante do que a coletiva e nos faz nivelar a importância do trabalho dos outros pela importância  que nós mesmos atribuímos ao nosso, certamente já sucumbimos a interferência das baixas vibrações e estamos servindo de peões manipulados pelo astral inferior. Sem dúvida aquele que está sob irradiação da espiritualidade de luz e que tenha interiorizado a essência da misericórdia crística jamais deixará a soberba turvar sua noção da importância de todos os elos de uma corrente, tendo entendimento suficiente para saber que o sentimento de caridade e a postura moral digna de uma pessoa valem muito mais que quaisquer conhecimentos.
Conhecimento adquirido é uma ferramenta valiosa no burilamento dos medianeiros desde que não se  perca jamais a humildade e a noção de que nada somos sozinhos e de que não existe aos olhos da espiritualidade nenhum trabalho mais ou menos valioso quando o mesmo é feito com fé, dedicação desinteressada e amor ao próximo. Conhecimento pode dar a falsa sensação de poder, mas não esqueçamos que o poder  pode facilmente corromper aqueles que não estão preparados e não tem maturidade suficiente para lidar com o mesmo. 


Como se diz na nossa Umbanda: "Quem não pode com mandinga, não carrega patuá."

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