Lúcia estava assentada
confortavelmente numa cadeira, enquanto ouvia atenciosamente ao final da
palestra elucidativa da noite naquela casa de Umbanda. Ela resolveu conhecer o
povo que veste o branco e carrega no pescoço as guias coloridas (colares),
porque na fraternidade que frequentou há mais de quinze anos, não conseguira
lograr êxito em suas mais elevadas expectativas de mulher.
Casada há dezoito anos com
Álvaro, sentia-se incapaz de lhe satisfazer os caprichos “mais simples”.
Álvaro era viúvo e quando se casou com Lúcia pela segunda vez, já era pai de
duas lindas moças adultas. Queria realizar seu grande sonho, o de ser pai de um
lindo varão. Nossa personagem deveria
com facilidade lhe realizar mais esse desejo, era moça nova... doze anos mais
moça que o esposo, porém, não
engravidava.
Após anos de intensos
tratamentos para fertilização, algumas crises de depressão e muitas idas ao
psicólogo, caiu vencida pelo cansaço e pela tristeza.
Foi a muitos lugares em
busca de respostas para seu drama, mas sem sucesso.
Ora, porque Deus lhe “castigaria”
assim? Era uma bela mulher, bem feita de
corpo que mais parecia uma boneca de porcelana. Inteligentíssima e competente
ela encantava a todos.
Boa esposa e cuidadosa
com as coisas do lar, sabia administrar seu tempo e além do mais, era muito
religiosa, adorava ajudar na campanha do quilo em sua comunidade... Lúcia tinha
muitos amigos, mas se sentia só e por vezes se pegava fazendo as mesmas
perguntas de anos, porque tudo aquilo lhe acontecia, já que era uma mulher tão boa e só o que lhe faltava eram apenas as
delícias da maternidade?
Todas as amigas já eram
mães, as irmãs mais velhas também, eram férteis e seus filhos eram saudáveis e
lindinhos... Mas Lúcia se sentia seca e incapaz de gerar uma vida! Chorava
copiosamente, lastimando-se da má sorte, o que ela não sabia que não estava só
no mundo, pois milhares de mulheres em todo o planeta enfrentavam as dores e os
dissabores da infertilidade.
O esposo até que tentava
consolá-la, mas contrariara-se muito com a fragilidade emocional de sua amada,
além do mais, havia nele um evidente sinal de desapontamento com a jovem
esposa, pois viu nela desde o princípio a possibilidade de ser pai novamente,
mas queria um filho homem!
As traições de Álvaro começaram
e nossa personagem afligia-se ainda mais.
A cunhada lhe levou até
uma casa de umbanda lhe prometendo mundos e fundos, dizia que “AQUELE POVO” fazia
verdadeiros “milagres” e a pobrezinha acreditou!
Na sessão de caridade ela
foi conduzida até um médium e desabou em prantos suas dores. Reclamava,
chorava, soluçava e tremia, falava tudo desconexo, coitada...
O médium tentava
acalmá-la, mas foi em vão e mesmo com a suavidade de seus conselhos, das
palavras de força e encorajamento que amorosamente lhe eram destinadas, Lúcia
não tinha a capacidade de ouvir, só queria lamentar-se e então, desferiu o
golpe certeiro e sem dó.
Lúcia: _Vim aqui porque tenho a
convicção de que serei ajudada! Tenho muito dinheiro, posso pagar o quanto me
pedirem. Falou a moça quase sussurrando.
Médium: _Minha irmã, não
cobramos pela caridade que fazemos. Tenha calma agora, vamos conversar, ouça-me
por favor! Falou amorosamente o medianeiro verdadeiramente interessado em
socorrer sua irmã em sofrimento. _Deus sabe o que faz e não É de forma alguma
injusto com nenhum de seus filhos. Para tudo existe uma explicação e o
sofrimento nos serve de medicamento abençoado no decurso de nossas vidas.
De repente, é preciso que
a irmã repense sua vida... o fato de não poder ser mãe agora, pode ser a
oportunidade para valorizar mais a maternidade, sua importância...
Foi interrompido pela
consulente infeliz que lhe olhou diretamente nos olhos, pegando em suas mãos como
a pedir-lhe socorro.
Lúcia: _Vivo a sonhar com
abortos que pratiquei, não sei em que época do meu passado isso se deu, mas estes
pesadelos me perseguem! - Falou entre soluços e envergonhada. _Sonho com
curiosas a me rodear, elas debocham de mim, acusando-me assassina! Acordo
suarenta e assustada! Em outros pesadelos vejo monstros correndo atrás de mim,
querem matar-me! Deus meu! Sinto que errei no passado, sinto que cometi delitos
graves contra meus semelhantes. E no tempo presente - acrescentou Lúcia
timidamente. Descobri as traições do meu esposo. Ele chega sempre tarde em casa
e não liga mais pra mim... está desapontado porque seu sonho era ter o tão
sonhado filho varão. Continuou ela a falar sem pausa. _Estou infeliz e desesperada, não consigo
deixar de pensar em todos esses anos perdidos... Nunca mais me diverti, sofro
há mais de dez anos tentando engravidar e nada! E começou novamente com o choro
copioso, mas agora amparada carinhosamente pelo médium que a assistia em
conversação fraterna. Lúcia continuou: _Sei que os macumbeiros ou
umbandistas... não sei como vocês gostam de ser chamados, podem desfazer isso,
então lhe peço, desfaz “isso” pra mim?! Preciso ficar grávida e dar a
Álvaro o filho homem ou meu casamento acabará!
Aquele trabalhador
dedicado e caridoso esperou calmamente até a oportunidade de esclarecê-la melhor,
sobre alguns equívocos e faria isso com todo amor e respeito, a fim de
auxiliá-la verdadeiramente...
Muitas vezes a vida prega-nos
peças e caímos a sofrer. Obviamente que como seres encarnados esquecemo-nos do
nosso passado delituoso e é exatamente em solo físico, que colhemos o que
plantamos em outrora. Se plantamos rosas no passado, receberemos no futuro o
perfume delicado das mesmas, mas se foram seus espinhos, a colheita será
dolorosa.
Todos os dias milhares de
consulentes adentram os templos umbandistas em busca da “última chance” de suas
vidas. É preciso que saibamos que o que nos aprisiona ao sofrimento é a nossa
ignorância a respeito das coisas espirituais, principalmente as que nos
cercam. O preconceito religioso, a má informação e a pressa em resolvermos
nossos problemas, faz de cada um de nós, quando desequilibrados presas fáceis
da dor.
Busquemos e sigamos Jesus
como o exemplo máximo de desprendimento e amor!
Reflitamos.
Letícia Gonçalves
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