domingo, 16 de fevereiro de 2014

VERGONHA DE ASSUMIR-SE ESPÍRITA?


Por que será que muitos de nós têm vergonha de assumir-se espírita fora do nosso grupo religioso? Será preconceito?
Num domingo desses na parte da manhã, tocaram campainha em minha casa e olha só que curioso, após atender quem chamava ao portão, minha mãe voltou falando sozinha, reclamando e então minha curiosidade aguçou-se. Quis saber qual o motivo do evidente constrangimento e da chateação e ela me disse que eram os nossos irmãos evangélicos ao portão, perguntando se poderiam ler a Bíblia para ela.
Minha maior surpresa foi quando lhe perguntei se ela não havia agradecido a atenção e dito para os evangélicos que somos espíritas. Olhou-me com espanto e disse um sonoro NÃO, IMAGINE!!! 
Quis saber o motivo para tanto constrangimento, mas nem continuei porque ela irritou-se comigo e tentou disfarçar a vergonha de assumir-se espírita... Pareceu-me pela reação negativa de minha mãe terrena, que aquele grupo de religiosos, conhecidos como evangélicos (neopentecostais) eram melhores, superiores, os mais corretos em escolha religiosa e que assumir-se espírita para eles era algo vergonhoso, constrangedor e indigno...
Muitos de nós em algum momento da vida age assim, creio que porque somos nós mesmos os maiores preconceituosos.
Dizer-se umbandista então, nossa! As pessoas nos olham como se fôssemos os maiores e piores feiticeiros do universo! 
Semana passada, aproximou-se de mim uma jovem e do nada iniciou um diálogo, isso é comum aqui em Belo Horizonte, gostamos muito de uma prosa. Ela sem nunca ter me visto na vida, começou dizendo que estava saindo de uma depressão porque o ex-marido a havia traído... Escutei com atenção, mas mantive-me em silêncio todo o tempo, apenas lhe ouvia, quando de repente, ela me disse que uma vizinha lhe convidou para conhecer uma fraternidade. O curioso foi que a moça imediatamente justificou-se para mim, dizendo assim: _A minha vizinha me disse que caso aceitasse, iríamos numa “fraternidade branca”, nada dessas coisas de “macumba” (umbanda)... era coisa séria mesmo, uai!
Fiquei pensando o porquê  que ela estava a falar todas aquelas coisas comigo, como se houvessem intimidades entre nós há anos. Mas só depois é que percebi que tudo isso se deu porque carregava comigo uma sacola plástica (transparente) com duas garrafas d’água, cada uma com etiqueta com nomes próprios escritos a caneta (os espíritas e espiritualistas costumam levar água para ser fluidificada nos templos, através do magnetismo). Só depois fui entender o motivo que a levou a abordar-me, justamente falando de espiritismo.
O medo de assumir-se espírita é algo que acontece com noventa por cento dos adeptos, pois a maioria nasceu em berço católico, porém ainda podemos perceber que há um constrangimento em assumir-se espontaneamente fora do meio em que se atua.
“Precisamos esclarecer” para as pessoas  durante o diálogo, que não somos “macumbeiros” e que apenas frequentamos a Fraternidade, parece que dá status, né pessoal? Nada contra, mas sinceramente vejo e não entendo.
Dizer-se umbandista para alguns irmãos de diferentes religiões, principalmente para os neopentecostais é o mesmo que pedir para receber pedradas! Intolerância religiosa? Eu mesma muitas vezes disse ser cristã quando me perguntavam sobre minha religião, olha só que “esperta” essa Letícia!!! Depois me sentia mal (culpada por não me assumir), é aquele velho medinho de constranger ou de afastar os preconceituosos de nós, não é mesmo? Então...
Será que um dia aceitaremos estudar o suficiente para jogar por terra as tolices, os enganos e a ignorância (preconceitos de toda ordem), afastando-os de vez da nossa vida? 
Que droga é o preconceito, a falta de informação e a intolerância religiosa. Repito, que droga!
Fico a me perguntar até quando precisaremos ter que explicar que não é isso ou não é aquilo, que o fato de estarmos hoje cultuando qualquer religião afro-brasileira não quer dizer que somos macumbeiros, feiticeiros, que praticamos a magia negra. Muito se faz e fala através dos vídeos explicativos (youtube), dos livros, das palestras em templos espiritualistas ou até nas conversações amigáveis, para que possamos ser mais aceitos por alguns (muitos) hipócritas e preconceituosos que ainda se sentem superiores porque são desta ou daquela religião. E o pior de tudo é que somos obrigados a admitir muitas vezes que tudo começa dentro do nosso próprio lar, onde temos que driblar o preconceito religioso. Alguns entes não perdoam!
E logo aqui no Brasil que é um país de gente miscigenada, de culturas interligadas, que abriga diferentes etnias e que é tão democrático, pois é, ainda haveremos de combater muito a ignorância e o preconceito religioso.
É um tal de explicar que umbandista não é macumbeiro, que só Jesus viu?!

Reflitamos

Axé a todos!

Letícia Gonçalves.

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